Francesco Misseri e Osvaldo Cavandoli, as melhores lembranças da infância

É mais fácil fazer malabarismo com granada que distrair uma criança de 8 anos. Digo isso porque tenho uma sobrinha, Valentina, que baixa por aqui pelo menos uma vez por mês.

Minha casa não é exatamente um lugar cheio de opções para crianças. Tem muito livro, mas nenhum com ‘figura’. Tem muito filme, mas nenhum desenho nem animação. (A última animação que assisti foi ‘Max & Mary’, que não é exatamente para criança). Tem umas coisas  fofas, mas não é pra brincar. Enfim, minha casa é uma arapuca e preciso inventar coisas para distrair a menina por algumas horas.

As crianças de hoje prestam atenção nas coisas por exatos 15 segundos e voltam a cutucar iPhones, iPads e iQualquerCoisa. Depois de 2 filmes, um de ‘gente’ e uma animação, minhas opções acabaram. Foi aí que Francesco Misseri e Osvaldo Cavandoli me salvaram.

A conversa agora é animação. Não a animação atual, feita com computação gráfica, mas daquela feita no século passado, que usava coisas simples, como um pedaço de papel, massinha de modelar e areia. Provavelmente a maioria de vocês não faz ideia do que era o programa de TV, o Globinho (favor não confundir com TV Globinho) nem quem era a linda Paula Saldanha, com seus cabelos infinitos. Imagine alguma coisa como um cruzamento da Discovery Kids com a TV Cultura (No tempo que a TV Cultura era bacana) e você ainda não vai ter chegado perto. Globinho passava na hora do almoço e apresentava coisas de vários lugares do mundo, como a Família Barbapapa, da França, Mio Mao, Vermelho e Azul, A Linha e o Pato Qua-Qua da Itália.

Francesco Misseri é um gênio da animação. Gênio mesmo, no sentido puro da palavra. Nos anos 60, ele era sócio de uma agência de criação chamada Studio K, que fazia as propaganda do chocolate ‘Baci’, da Perugina, e da bebida Fernet Branca usando objetos animados. Em 68, o Studio K foi contratado para produzir um programa infantil para TV chamado Carosello, que acabou mudando a história da televisão italiana. Foi o primeiro programa infantil que interessava quase tanto aos pais quanto aos filhos.

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Mio Mao

 

Em 1974, em uma parceria com o Channel 5 inglês, surgiu Mio Mao. Usando o recurso de stop motion, Mio Mao eram dois gatinhos feitos de massinha, um branco e outro vermelho. As historinhas, que duravam 5 minutos, seguiam sempre o mesmo roteiro: surge um elemento desconhecido, um passarinho, um novelo de lã, uma concha e depois de alguma insistência, Mao, o gatinho vermelho, convence Mio, a gatinha branca, a ir ver do que se trata. Mio se assusta com a novidade e volta correndo. Aí é a vez de Mao, que acaba desvendando o mistério e descobre que o ‘estranho’ é bem divertido e todos acabam amigos. Pode até parecer bobinho, mas a animação é tão sensacional, que você vai passar horas assistindo. Além disso, a música tema é daquelas que você nunca mais vai esquecer e parar de cantar. “Mio, Mao, Mio, Mao, lá lá lá lá lá…”

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A.E.I.O.U.

Como a genialidade de Misseri não parece ter limites, eles continuou inventando moda, sempre procurando elementos novos. No final dos anos 70, surgiram Vermelho e Azul, outra animação de massinha, o Pato Qua-Qua, de dobradura de papel e AEIOU que é feito na areia. O Studio Misseri começou uma parceria com Jim Henson e Sesame Street, que dura até hoje. Se você vê uma coisa bonitinha na Sesame Street, pode ter certeza que é feita pelo Studio Misseri, como os deliciosos episódios da Grande Aventura de Ênio e Beto.

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A Linha

Antes de se tornar conhecido no mundo todo por A Linha (La Linea), Osvaldo Cavandoli, mais conhecido como Cava, trabalhou como designer da Alfa Romeo. A Linha foi criado, em 1969, para a marca de produtos de cozinha Lagostina. Em 1971, ganhou sua própria série, com episódios de 2 minutos e virou sucesso em mais de 40 países. O desenho é simples, uma linha branca em um fundo colorido, que forma a silhueta de um homenzinho que tem que lidar com uma série de acontecimentos, inclusive o mau humor do desenhista, que às vezes resolve apagá-lo.  Osvaldo Cavandoli  morreu em 2007 mas Francesco Misseri continua firme e forte.

Não sou do tipo saudosista que acha que toda modernidade é uma droga. Ao contrário, acho o máximo o que é possível fazer com a computação gráfica, mas ver minha super tecnológica sobrinha encantada com uma animação de massinha foi um dos melhores momentos da minha existência. Ficamos horas assistindo todos os videos possíveis no YouTube. E durante aquele momento mágico nós duas tínhamos 8 anos.

*Publicado originalmente no Portale Eh Già

21 Motivos para torcer pela Itália na Copa do Mundo

Como se a camisa colada na pele já não fosse justificativa suficiente para torcer pela Itália na Copa do Mundo, resolvemos enumerar outros motivos para virar bandeira. E criamos nosso próprio álbum de figurinhas – porque nós podemos.

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Camisa Magipack®

A muralha

Museus

Buffon, Sirigu e Perin

Gianluigi Buffon – Se você gosta do tipo maduro, o goleiro italiano é o seu número. 36 anos, 1m91, e aquele ar de quem já viu melhores dias. Recém-separado, Buffon estará livre, leve e solto pelas Terras Brasilis entre junho e julho. 

Salvatore Sirigu – Vamos ter que admitir que Paris fez bem pro moço. Ele perdeu aquele ar amarrotado e ganhou um je ne sais quoi. Dizem que onde goleiro pisa não cresce grama, mas moramos em apartamento, então tá tudo bem. 

Mattia Perin – Perin faz sucesso com quem gosta de moleque largado. O cabelo sempre sem corte, a barba sempre por fazer e a roupa sempre mulambenta. Tem quem curta.

 

Feios, Sujos e Malvados

Museus (1)

Chiellini, Cerci e Parolo

Giorgio Chiellini – Quem ama o feio, bonito lhe parece. Taí Chielini que não nos deixa mentir. Ele é mal acabado, daqueles a quem faltou a última lixada, mas o importante é a beleza interior, né mesmo?

Alessio Cerci – Vamos falar a verdade, ele é feio. Deve estar na pequena cota de homem mal ajambrado da Itália, mas talvez seja exatamente aí que reside o charme do moço. No meio de tanta beleza, nem o feio é assim tão feio. 

Marco Parolo – Ele não é sujo nem malvado, só feio mesmo. Como se não bastasse o fato dele ser meio vesgo, tem também aquele ar desanimado. É o tipo do homem perfeito, se seu programa preferido é ficar encorujada em casa vendo TV. 

 

Debaixo desta barba também bate um coração

Museus (2)

Candreva, Pirlo, Barzagli e De Rossi

Antonio Candreva – Existe uma diferença entre a barba de Jesus Cristo e a do Unabomber. Aqui estamos andando em gelo fino, porque Candreva está na fronteira. Se você for do tipo que, quando o assunto é barba, não quer saber quem morreu, quer mesmo é chorar, ele é seu número. 

Andrea Pirlo – Homem com carinha de bebê não faz seu tipo? Temos Pirlo que, além de jogar muita bola, tem um ar de mistério. Mais fácil ganhar sozinho na Mega Sena que arrancar um sorriso desse homem. 

Andrea Barzagli – O zagueirão da Juventus, que em campo é um xerife, fora dele tem jeito de quem acabou de tomar banho com sabonete líquido cremoso.

Daniele De Rossi – Temos aqui um perfeito exemplar do tipo mendigo. De Rossi sofreu uma transformação: passou de moço arrumadinho com risca no cabelo a sujeito que largou mão de tudo, principalmente do barbeador. E, vamos admitir, nunca uma barba fez tão bem pra alguém… 

 

Princesos

Museus (3)

Bonucci, Abate, Marchisio e Ranocchia

Leonardo Bonucci – Com ou sem cabelo, Bonucci agrada gregas e troianas. Alto, magro, faz a linha poucos amigos. A gente sente uma ternurinha quando ele levanta a sobrancelha, parecendo fazer força pra pensar. Quem liga? 

Ignazio Abate – Temos aqui um tipo clássico de princeso. Não garantimos que chegue em um cavalo branco, mas vale a pena ficar de olho. 

Claudio Marchisio – Mamma mia, quando distribuíram beleza, Marchisio passou 10 vezes na fila! Alguém discorda que, se não fosse boleiro, ele teria lugar certo em qualquer passarela?

Andrea Ranocchia – Os olhinhos apertados e o frescor da juventude garantiram Ranocchia nesta categoria. Em campo, o futebol é não é lá essas coisas, então concluímos que foi convocado só pela beleza.

 

Encrenca 

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Ballotelli

Mario Ballotelli – Ele tem fama de bad boy, esquentadinho, indisciplinado, mas ninguém vai negar que o cara é bonito. Exagerado, só um desses brincos pagaria toda a dívida externa da Grécia. A verdade é, com Ballotelli não existe monotonia. 

 

Funko Pop

Museus (4)

De Sciglio, Verratti e Insigne

Mattia De Sciglio – Este é o bebê Johnson da seleção italiana. Com 21 anos, cheirando a leite, essa criança desperta os instintos maternais em qualquer uma.

Marco Verratti – Essa miniatura humana é o exemplo perfeito que os melhores perfumes vem nos menores frascos. 

Lorenzo Insigne – Temos aqui um bom exemplo do ‘homem de bolso’. Insigne é tão pequeno que deveria estar na seleção de futebol de botão.  

 

Convoca, Prandelli!

Como beleza nunca é demais, vamos dar algumas ideias de maravilhosidade para Cesare Prandelli reforçar o ataque e encher nossos olhos. 

Museus (5)

Totti, Toni e Matri

Francesco Totti – O capitão da Roma seria a opção perfeita para comandar a Itália meio capenga de Prandelli. Aos 37 anos, Totti ainda dá um bom caldo. Diga se não é difícil resistir a esse olhar de quem tocou fogo em Roma a pedido de Nero. Os desafetos gostam de dizer que o QI é de Forest Gump, mas aqui ninguém quer está procurando membro da Mensa, então bora.

Luca Toni – Pense num homem grande. Multiplique por 3, some mais 30 cm e o resultado é Luca Toni. Ele é bem rodado (quem somos nós pra julgar?), já jogou em todos os times da primeira divisão, foi campeão do mundo, então, poderia ser a carta na manga de Prandelli. Em campo ele faz o tipo ‘Tropeço’, tá passeando pela área, a bola bate nele e pimba….Gol! 

Alessandro Matri – Matri é o cara mais bacana do rolê. A vida dele não deve ser fácil, porque é dureza ser mais bonito que todo mundo à sua volta. Nós agradecemos por ele existir. Pele perfeita, cabelo sedoso, sorriso de parar o trânsito, alto como uma árvore. Achamos que ele merece uma vaguinha na seleção porque é certeza que a defesa adversária vai parar pra vê-lo passar. 

 

Outro ano, outro Sanremo

Prima serata del 63esimo Festival della canzone italiana

Sanremo é cafona, é caótico, é injusto, mas não consigo deixar de assistir. Porque Sanremo é exatamente aquilo que promete: popular. As regras podem mudar todo ano, mas uma coisa continua sempre igual, é o público que decide quem ganha.

Este ano rolou um ‘bis’ na apresentação, com Fabio Fazio e Luciana Littizzetto, e na regra do ano passado de cada cantor apresentar duas músicas e uma delas é escolhida pelo publico, através do telefone.

A Itália é o Brasil, com mais idade, drama e manjericão, então, não podia faltar um furdúncio. O pobre Fazio foi interrompido no seu monólogo inicial por dois operários que resolveram tentar  suicídio ameaçando se jogar do alto do teatro Ariston. No começo ninguém sabia se era verdade ou brincadeira – de péssimo gosto – mas a realidade pode ser mais bizarra que a ficção e a mente cafeinada de qualquer roteirista. Momentos de emoção, famosos se retirando, porque vai que os caras resolvem mesmo pular. Tudo isso ao vivo, sem break comercial, nego gritando como se estivesse num cortiço, as pessoas aplaudindo, dez minutos dignos de um filme de Fellini.

Passando ao que interessa, Sanremo começou no dia 18 de Fevereiro, aniversário de Fabrizio De André, e para não deixar a data passar em branco teve Luciano Ligabue cantando “Crêuza de mä”, em genovês, acompanhado de Mauro Pagani, autor da música, e as presenças da viúva Dori Ghezzi e do filho Cristiano. Ligabue casou, mudou, deu um tapa no visual e até perdeu aquele ar de quem levanta uma parede em um dia. Fez o que sabe fazer melhor, cantou lindamente.

Aí chega o momento de Lucianina Littizzetto. Quebrei a cabeça pra achar uma correlativa brazuca pra ela e não achei. A coisa que chega mais perto é Dercy Gonçalves, mas muitos graus abaixo. La Littizzetto fez sua entrada, no melhor estilo Crazy Horse, e seu monólogo de abertura foi tão cheio de duplo sentido que o botox das senhoras respeitáveis da platéia venceu tentando disfarçar o constrangimento.

A primeira concorrente é Arisa, com sua cara de Piu Piu e sua voz de periquito usando o batom mais equivocado da história da maquiagem, que faria Max Factor girar na cova feito frango de padaria. Canta duas músicas, a primeira, bem legal, é claaaaaaro que não foi escolhida. Da segunda falaremos mais pra frente. Ou não.

Apresentado como o ‘pai do pop italiano’ (eu faria um DNA urgente pra verificar a paternidade), Frankie Hi-Nrg Mc. A única coisa ‘High Energy’ do fulano é a quantidade de medicamentos para pressão alta que ele toma todas as manhãs. Pouparei vocês da minha sincera opinião sobre as duas tranqueiras que este senhor cantou.

Pausa na parte musical e hora da convidada especial, Laetitia Casta. Lindá, modelá, francesá, La Castá assassinou com três tiros a queima-roupa ‘Meraviglioso’ de Domenico Modugno. De boca fechada Laetitia é Maria Callas. Ela tentou melhorar as coisas dançando de maiô, mas o estrago já estava feito.

Sanremo gosta de arrancar umas lágrimas, então, não faltaram homenagens. Parece que o Ceifeiro teve bastante trabalho nos últimos meses e promoveu uma verdadeira chacina no mundo musical italiano. Enzo Jannacci, o maestro Claudio Abbado, Freak Antoni e Francesco Di Giacomo foram lembrados com vídeos e músicas.

Segue o enterro – tenham em mente que são 14 concorrentes – Antonella Ruggiero, fundadora do grupo Matia Bazar, é uma daquelas cantoras que flerta com a música lírica. Pra meu desespero. Não sei se foram as horas infinitas dos Três Tenores e aqueles shows para os pobres de algum canto do mundo com Pavarotti (que Deus o tenha em bom lugar com direito a buffet variado), ou se foram os musicais da Broadway de Andrew Lloyd Webber que me causaram uma gastura toda vez que alguém manda um vibrato.

Raphael Gualazzi conquistou meu coração de pedra, em 2012, com “Follia d’Amore”, e meu amor resistiu bravamente às duas músicas meia-boca que ele cantou no ano passado. Este ano foi a pá de cal, porque Raphael resolveu se apresentar com a dupla de música eletrônica dos mascarados, The Bloody Beetroots. Se em dois anos Raphael sofreu um processo de desembarangamento, ficou chato bagarai.

Todas as revistas de fofoca dizendo que Raffaella Carrà tava às portas da morte e ela aparece cantando e dançando com salto 15 aos 70 anos. Se ela tá mal, eu tô tecnicamente morta.

É a vez de Cristiano De André. Apesar de ser a fuça do pai e não cantar mal, o pobre deve ter passado sempre com a água pelo peito, como todo ‘filho de’. Ele é a Maria Rita, versão masculina e italiana, que só consegue enganar quem nunca ouviu ou esqueceu como era o original.

Primeiro grupo a participar é Perturbazione e faz a gente sentir saudade do Modà. Volta Modà!

Giusy Ferreri não é uma má menina, o problema é a voz bizarra. Ela até engana por uns 2 minutos, aí começa a gritaria. Chamar de gralha ofende toda a categoria.

Francesco Renga… Quando não se tem nada de bom pra dizer, a gente repara que o cara tá usando toda a prata do Universo nos anéis e nas pulseiras.

A primeira coisa que pensei quando vi Giuliano Palma é que ele é a fuça de Arrigo Sacchi. E a música não é ruim, mas é daquelas que grudam na cabeça e nem lobotomia tira.

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Noemi! Minha favorita. Mesmo que ela tenha acabado com toda tintura vermelha da Itália e agora use uma franja de mongPIN UP, Lilian, PIN UP! Mesmo com um vestido que traz como detalhe um troço que lembra aquele aparelho arreio de cavalo. Mesmo que eu nem tenha conseguido prestar atenção nas músicas pra escolher uma. Canta qualquer coisa aí, Noemi, porque sua voz é foda.

Renzo Rubino é o Gualazzi de 2012. O estreante na categoria principal se apresentou ao piano e mandou uma musiquinha tão legal que, sem perceber, você fica cantarolando o dia inteiro.

Ron. Voz de velho, música de velho, mania de velho de cantar mezzo italiano mezzo inglês, um toupet de castor morto na cabeça… É velho, véi!

Riccardo Sinigallia é metade da dupla Tiromansino. Pelo visto, a parte dele é a Tiro, porque foi o que ele deu no pé inscrevendo em Sanremo uma música que já tinha tocado. Qual parte do inédito você não entendeu Riccardo? Foi desclassificado.

Eu bem tentei prestar atenção na música de Francesco Sarcina, mas fui hipnotizada pelos brincos dele. É tudo que posso dizer.

Quem escolheu as atrações internacionais deste ano está sob efeito de drogas pesadas. O primeiro foi Cat Stevens ou Yusuf Islam ou Yusuf ou Steven Demetre Georgiou, seja lá qual o nome que ele estiver usando no momento, na hora que ele canta “Father & Son” você espera a entrada de Suplicy e do Supla. O segundo foi Rufus Wainwright, que passou o tempo todo com cara de “Onde eu fui amarrar meu jegue?”. O terceiro foi Damien Rice, que só tem duas músicas. Adivinhem o que ele cantou? Paolo Nutini, modernoso e, provavelmente, o único oriundi que não fala nenhuma palavra de italiano.

Minha falta de saco pra Sanremo já estava preocupante, então, resolvi consultar as bases pra saber se gostamos ou não de Claudio Baglioni. Gostamos! E ele canta tudo que nos faz gostar dele, um medley dos bons, ele ao piano. E só em pensar em ouvir o resto dos péla saco que ainda faltam cantar, dá voltade de pedir pra ele ficar cantando até amanhã.

Quando eu já estou acostumando com as músicas que o público escolheu, lembro que ainda tem a categoria “Giovani Proposte”. Este ano a coisa estava particularmente ruim, mas sempre dá pra salvar um e o nome dele é Zibba.

O quarto dia foi o dia das covers e dos encontros, no mínimo, inusitados, que começou com o mala ganhador do ano passado, Marco Mengoni, estragando “Io che amo solo te” de Sergio Endrigo. Teve Arisa cantando “Cuccurucucu”, de Franco Battiato, com a banda dinamarquesa Whomadewho, que se alguém conhecer ganha um doce. Cristiano De André cantando “Verranno a chiederti del nostro amore” do pai, Fabrizio. Noemi ao piano cantando “La costruzione di un amore”, que Ivano Fossati escreveu para Mia Martini. O chatissimo Francesco Renga cantou com Kekko, do Modà, “Un giorno credi” de Edoardo Bennato. Giuliano Palma cantando “I say i’ sto cca” de Pino Daniele. Ron mandou “Cara” de Dalla. Frankie Hi-Nrg e Fiorella Mannoia competindo pra ver quem cantava pior “Boogie” de Paolo Conte. Renzo Rubino com Simona Molinari cantaram “Non Arrossire” de Giorgio Gaber. E Perturbazione cantou “La donna cannone” de Francesco De Gregori com a participação de Violante Placido.  Antonella Ruggiero acompanhada pelo DigiEnsamble Berlin cantou “Una Miniera” dos New Trolls. Vencedor no quesito parceria mais bizarra, Raphael Gualazzi convidou Tommy Lee, do Motley Crüe, para acompanhar na bateria “Nel blu dipinto di blu”, mais conhecida como “Volare ô ô”, de Domenico Modugno. Eu esperava que, pelo menos, Tommy Lee entrasse pelado pra coisa fazer algum sentido, mas não rolou. Empatados em segundo lugar Giusy Ferreri, Alessandro Haber e Alessio Boni, bem louco de Velho do Rio, cantando “Il mare d’inverno” de Enrico Ruggeri e Francesco Sarcina com Riccardo Scamarcio, mais conhecido como marido de Valeria Golino, na bateria pra “Diavolo in me” de Zucchero. E ainda teve uma colher de chá para o desclassificado Riccardo Sinigallia cantar “Ho visto anche degli zingari felici” de Claudio Lolli com Paola Turci e Marina Rei.

Quarta serata del 64esimo Festival della canzone italiana

Todo este suplício só foi tolerado para ver Gino Paoli, acompanhado de Danilo Rea, um dos melhores pianistas de Jazz da atualidade. Teve Tenco. Teve Bindi. E teve Paoli. Quinze minutos de pura e sublime genialidade.

No fim, ganhou Arisa com sua voz de periquito. E o que aprendemos nesses 5 dias de festival? La Littizzetto continua sendo a melhor coisa da TV italiana, Noemi é disparado a melhor jovem cantora, Gino Paoli é Deus e o CD de Zibba é a única coisa que tenho escutado nos últimos dias. No ano que vem tem mais, porque eu adoro odiar Sanremo.

*Publicado originalmente no Portale Eh Già

 

Cominciamo

É difícil falar de amor. Ainda é mais difícil falar de um amor desmesurado, inexplicável, total. Amor por algo que se ama antes mesmo de conhecer, que parece ter sempre estado ali, na matéria de que somos feitos, na retina antes do primeiro olhar, em cada fibra do seu ser. Amor por alguma coisa que sempre foi sua, que faz parte de você, mesmo que a geografia insista em dizer o contrário. E, um dia, você descobre que não é só você, que outros amam a mesma coisa, com a mesma intensidade. E assim, começamos. 

Era uma ideia, o desejo de criar uma coisa diferente, mostrar alguma coisa que, talvez, os outros não conheçam. A Itália. A nossa Itália. A Itália que nós amamos. 

Começamos. E essa aventura se revela a cada momento mais interessante, mais cheia de surpresas do que tínhamos imaginado. Descobrimos personagens, lugares, coisas que nem sonhávamos. Descobrimos que existe um mundo histórias que merecem ser contadas.

Não estamos sozinhas, porque ninguém que ama pode estar sozinho. Então, para começar, convidamos os amigos, aqueles que compartilham o mesmo amor e tem tantas histórias para contar. E muitos outros virão, outros que aceitaram nosso convite e embarcaram conosco nesta viagem. Somos todos pequenas peças deste mosaico incrível que pretendemos criar.  

Começamos. Esta é a porta de entrada. Sintam-se em casa. Benvenutti.

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*Publicado originalmente no Portale Eh Già

Acabou a invencibilidade

Cinco meses depois da última derrota, a seleção italiana percebeu que não é nada imbatível isso de jogar só pro gasto. No último amistoso do ano, no estádio Olímpico, perdeu para o Uruguai por 1 x 0. A onipresente Lilian Trigo se decepcionou com Prandelli e família, como não poderia deixar de ser:

“Um gol aos 4 minutos, cortesia do apagão de Ranocchia, Maggio e Chellini. Foi tudo que o Uruguai precisou pra demolir a seleção de açúcar de Prandelli. O jogo também não foi lá muito ‘amistoso’, com 30 faltas, uma expulsão e seis cartões amarelos. Quem sofreu mesmo foi a canela de Balotelli.

Eu e Balzaretti, certamente, não assistimos o mesmo jogo. Ele, no fim da partida, disse que a Itália merecia um empate. Eu achei que perder de 1 x 0 até foi um bom negócio. Numa noite apagada de Pirlo, Marchisio e De Rossi, ficou provado que, quando o meio de campo não está inspirado, a Itália não joga.

Prandelli segue apaixonado pelo 4-3-1-2, que só funciona quando o time adversário joga mais aberto e o meio de campo italiano pode tocar bola, mas não se acanhou em mudar o esquema, para 4-3-3, depois da entrada de Pepe. De boas intenções é acarpetado o piso do inferno e o treinador contribuiu hoje para a nova decoração do cafofo do Tinhoso.

A pergunta de 1 milhão de dólares é: ‘O que Pepe faz na seleção?’. Não pode ser pelo futebol, porque ele nunca teve intimidade com a coisa. Não pode ser pelo que está fazendo na Juventus, já que ele passa mais tempo nas acolchoadas poltronas da reserva que no gramado do estádio novo. Pepe é um espinho na carne. A mesma pergunta serve para Montolivo, que até é esforçado, mas não tem criatividade, visão de jogo e está em péssima fase. É uma bigorna, o que destoa no afinadinho meio-campo de Prandelli.

Não dá para falar muita coisa de um time que chutou oito vezes ao gol, sem nunca ser realmente perigoso. A culpa não é de Osvaldo, que não comprometeu na estreia como titular, nem de Balotelli, que teve alguns lampejos de craque. A Itália de hoje não foi muito diferente da que jogou contra a Polônia. Só esqueceram de avisar que o Uruguai não é a Polônia. Squadra Azzurra, agora, só em 2012. Com um futebol e uma camisa mais bonitos que o de hoje.”

E Balotelli entrou em campo com a camisa antiga, viram? Na foto abaixo, o detalhe:

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  • Originalmente publicado no site “Tripletta

Ah, Itália!

Existe gente que nasce virada pra lua. Gente que pode pisar na bola, uma, duas, mil vezes, mas sempre se safa no final. Gente que se mete em escândalo e rende mais manchete por indiscrições de alcova que pelo que faz da vida e, como num passe de mágica, acaba virando o jogo a seu favor. Pensou em Paris Hilton? Berlusconi? Pensa de novo.

ITALIA IRLANDA DEL NORD

Prandelli fez a Itália sob medida pra Cassano, mas a Itália é menos Cassano-dependente do que se imagina. O meio-campo, com Pirlo, Marchisio, De Rossi e Montolivo, arma as jogadas e serve Cassano durante todo o jogo, mas não vive em função dele. Contra a Sérvia, quando Antonino teve mais uma de suas apagadas atuações, quem salvou a pátria foi Marchisio. Hoje, que Pirlo não apareceu muito no jogo, De Rossi mostrou que seu inferno astral finalmente terminou. O lançamento primoroso, que resultou no primeiro gol, saiu dos pés dele. (Se você torce para a Lazio é bom começar a se preocupar com o dérbi romano do fim de semana).

Hoje não teve Marchisio, mas teve revival dos gêmeos De Rossi e Aquilani no meio-campo. Prandelli deixou de lado a ideia de Chiellini pela esquerda e ‘ousou’ com a dupla de ataque Cassano e Giovinco. Teve dopietta de Antonino. E teve Osvaldo! Teve mais do mesmo e, no fim, todo mundo ficou feliz.

Vendo Pirlo na Juventus e na seleção, e De Rossi de volta à sua melhor forma, fico imaginando se a história teria sido diferente na Copa de 2010. Os dois são campeões do mundo, com nome garantido na história do futebol italiano, e não precisam provar mais nada pra ninguém. Só pra eles mesmos.

A Itália de Regina Duarte

UEFA EURO 2012: ITALY NATIONAL TEAM; CESARE PRANDELLI PRESS CONFERENCE

Prandelli, o grande expoente da reginaduartização italiana

Como não pude ver o empate da Itália com a Sérvia, pelas Eliminatórias da Eurocopa, pedi que a sempre presente Lilian Trigo me contasse o que foi o jogo. Com uma Itália já classificada, imaginei que não pudesse sair muita coisa dali. Vamos para o papo do dia:

Tripletta: Então Prandelli continua só com duas derrotas, agora em 13 jogos. É uma boa Itália, certo?
Lilian: A “nova Itália” é a cara dele. Cesare Prandelli é a Regina Duarte do futebol (antes da viúva Porcina e de Clô Hayalla, nos tempos de namoradinha do Brasil). Cesare é moço pra casar. Cara bacana, sonho de toda sogra, alívio de todo sogro, certeza que não vai comer a sobremesa antes do jantar, nunca vai aparecer vestindo uma camisa de bicheiro e o máximo de ousadia que se pode esperar é que ele, num momento de extrema loucura, ande a 61 km/h. Enfim, é a garantia de uma vida sem emoção. A moça que namora Prandelli, com certeza, no silêncio da noite, no escuro do quarto, sonha com Lippi.

Tripletta: Foi o primeiro jogo da Itália depois da classificação. Deu algum caldo?
Lilian: Hoje, contra a Sérvia, a Itália quase me enganou. Prandelli prometeu uma Itália com um ânimo diferente, que, apesar de entrar em campo já classificada, jogando no esquema 4-3-1-2, não iria se intimidar com o clima e a torcida sérvia. A coisa parecia bem, depois do gol de Marchisio aos 54 segundos e rendeu até 25 minutos de bom futebol. Aí, veio o gol de Ivanovic…

Tripletta: E acabou o jogo, imagino.
Lilian: O segundo tempo foi digno de um cochilo, com Montolivo fazendo um dos piores jogos da sua carreira. Cassano, brincando de homem invisível, não tocou na bola mais que meia dúzia de vezes. Sorte da Itália que Krasic gastou todo seu futebol naquele 4 x 2 de Juventus e Cagliari, em setembro do ano passado. Prandelli não soube nem aproveitar a oportunidade de testar Osvaldo. Pior que os que estavam em campo, certamente, não faria.

Tripletta: Não deu pra salvar nada? Vai ficar só na corneta?
Lilian: Barzagli voltou bem, depois de quatro anos longe da seleção. Chiellini na esquerda não comprometeu. O resto, da dimenticare (pra se esquecer).

  • Publicado originalmente no site “Tripletta“.