Guia (quase) definitivo de séries italianas sobre a Máfia

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Graças ao cinema e à literatura, a Máfia italiana exerce um imenso fascínio no imaginário coletivo. Todo ano surge um novo filme ou uma nova série sobre o assunto. Mas o conceito tem sido usado erroneamente. Existem vários clã mafiosos na Itália, e cada um ocupa um território específico na bota e tem regras e características próprias. Descomplicamos o assunto, assim fica mais fácil pra você encontrar a série que está procurando. 

Cosa Nostra 

A máfia siciliana é a mais famosa. O filme ‘O Poderoso Chefão’, glamourizou os hábitos e os códigos de honra da Cosa Nostra, fazendo com que ela ganhasse uma aura de estrutura super complexa e organizada. Ninguém sabe precisar com certeza quando a máfia siciliana surgiu, mas os primeiros relatos apareceram a partir de 1860. Formada nos feudos da Conca d’ Oro”, nos arredores de Palermo, começou com uma sociedade secreta cujos membros eram ‘homens honrados’, que buscavam defender suas famílias, seus territórios e seus interesses. Aos poucos foi ganhando contornos de crime organizado quando, além da família, passaram a agregar membros de confiança. Na Cosa Nostra, a estrutura tem formato de pirâmide, com ‘soldados’ na base, comandados por ‘gerentes’, que formam as colunas que sustentam a cúpula. No topo fica o chefão, il capo.  

Corleone

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A série conta a trajetória de Salvatore Riina, da infância miserável em Corleone, na Sicília, até se tornar o chefe da máfia. Totò era um marginal pé de chinelo, que foi conquistando espaço na ‘famiglia‘ traindo e matando os que estavam acima dele na hierarquia. Quando já tinha adquirido alguma notoriedade, passou a orquestrar ações mais violentas, encomendando os assassinatos de figuras públicas, como os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino. A prisão de Tommaso Buscetta marcou o começo do fim do reinado de Riina. Don Masino revelou ao juiz Falcone detalhes dos crimes cometidos pela Cosa Nostra. Apesar de ter ‘no bolso’ políticos e policiais, alguns meses depois, Totò Riina foi preso.   

Os assassinatos dos juízes Falcone e Borsellino, a mando de Totò Riina causaram imensa comoção em toda Itália. Por causa deles, a captura de Riina e o desmantelamento da Cosa Nostra se tornou uma questão de honra. Graças ao depoimento de Tommaso Buscetta, que colaborou com a justiça, a estrutura hierárquica da máfia siciliana, protegida por um código de silêncio, foi finalmente revelada. Don Masino foi extraditado para os Estados Unidos e entrou para o programa de proteção à testemunhas. Morreu em 2000, na Flórida. Durante o maxi-processo contra a máfia, Salvatore Riina foi sentenciado a 26 penas de prisão perpétua. Em 2017, aos 87 anos, na unidade carcerária do hospital de Parma.

A minissérie em 6 episódios é a adaptação do livro “Il capo dei capi. Vita e carriera criminale di Totò Riina”, de Giuseppe D’Avanzo  e Attilio Bolzoni, e conta o período da vida de Riina que vai de 1943 a 1993. Alguns críticos torceram o nariz para o fato do roteiro ter tomado certas liberdades com os fatos reais, o que valeu para a RAI um processo. Ela foi obrigada a indenizar a família de Bernardo Mattarella, pai do presidente italiano Sergio Mattarella, pela maneira como ele foi representado e por insinuações sobre sua ligação com mafiosos. Outra curiosidade envolvendo o presidente: seu irmão mais velho, Piersanti Mattarella, foi assassinado a mando de Totò Riina. 

Corleone (Itália – 2007)

Título Original: Il Capo dei Capi

6 episódios

Elenco: Claudio Gioè (“Os Cem Passos”), Daniele Liotti (“Doutor Jivago”), Marco Leonardi (“Cinema Paradiso”), Vincent Riotta (“Sob o Sol da Toscana”) e Francesco Scianna (Baaria – A Porta do Vento”). 

Trailer: aqui

Il Cacciatore

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Em 1993, o jovem e ambicioso promotor Saverio Barone é promovido a chefe da unidade de combate ao crime e passa a fazer parte do recém criado pool anti-máfia. Ao mesmo tempo, Luca Bagarella, braço direito e cunhado de Totò Riina, agora promovido a chefe da Cosa Nostra, continua tocando os negócios, apesar de ser procurado pela justiça.

A série começa exatamente onde ‘Corleone’ parou, mostrando que, apesar da prisão de Riina, os negócios da Máfia seguiram como antes. O roteiro é uma adaptação livre do romance autobiográfico “Cacciatore do Mafiosi”, de Alfonso Sabella, em quem o personagem principal é baseado. Sabella fez parte do grupo de magistrados que realizou o maxi processo de investigação que levou à captura e condenação dos principais membros da máfia siciliana. O livro continua inédito no Brasil.

Il Cacciatore (Itália – 2018)

Título Original: Il Cacciatore

3 temporadas – 28 episódios

Elenco: Francesco Montanari (“Medici: Mestres de Florença”) , Miriam Dalmazio (“Maravilhoso Boccaccio”), Edoardo Pesce (“Dogman”), David Coco (“L’uomo di Vetro”)

A série sumiu da Globoplay, mas o trailer você vê aqui

A Máfia só Mata no Verão

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Nos anos 70, a Cosa Nostra vive seu período mais violento, enchendo as manchetes dos jornais, quase que diariamente, de crimes brutais. O pequeno Salvatore Giammarresi, menino de 10 anos, é o narrador da história e conta de maneira divertida as vicissitudes de sua família. 

Uma das melhores séries sobre o assunto, “A Máfia só Mata no Verão” mostra com humor e graça os grandes acontecimentos ocorridos em Palermo, na Sicília, nos anos 70. Baseada no filme de mesmo nome, a série tem toques autobiográficos de seu criador, o apresentador de televisão Pierfrancesco Diliberto, mais conhecido pelo apelido ‘Pif’. 

A Máfia só Mata no Verão (Itália – 2016)

Título Original: La mafia uccide solo d’estate, la serie 

2 temporadas – 24 episódios

Elenco: Claudio Gioè (“Corleone”), Anna Foglietta (“Perfeitos Desconhecidos”), Francesco Scianna(“O Processo”), Vincent Riotta (“Sob o Sol da Toscana”) e Claudia Gusmano (“L’allieva”). 

Assista o trailer aqui

Camorra 

Diferente da Cosa Nostra, a Camorra surgiu na área urbana e periférica de Nápoles. Suas atividades principais são tráfico de drogas, extorsão, agiotagem, falsificação, sequestros e jogos de azar. Alguns de seus negócios tem uma fachada “legítima” na área têxtil, da construção civil e no descarte de resíduos tóxicos. 

Seus clãs são autônomos e mulheres e crianças desempenham um papel importante na organização. O escritor Roberto Saviano, em seu livro-reportagem “Gomorra”, desnudou a máfia napolitana, mostrando como funcionam suas operações nos bairros pobres de Scampia e Secondigliano. Desde a publicação do livro, Saviano é jurado de morte e vive sob constante proteção. 

Gomorra

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No bairro de Secondigliano, periferia de Nápoles, quem manda é Don Pietro Savastano. Poderoso e respeitado, é ele quem domina o tráfico de drogas e todas as principais atividades do submundo. Sua única preocupação é com o futuro de seu império, já que seu filho Gennaro não leva muito jeito para os negócios. Cabe a Ciro Di Marzio, braço direito e homem da máxima confiança de Don Pietro, a ingrata tarefa de preparar ‘Genny’ para assumir seu papel na família.

Ciro Di Marzio, o personagem principal, é baseado em Gennaro “Genny” Marino do clã Scissionisti di Secondigliano. Ciro, que foi a única pessoa salva com vida do desabamento de um edifício, durante o terremoto de Irpinia, em 1980, é chamado de “Imortal”. Ele é tudo que Don Pietro gostaria que seu filho Gennaro fosse. No final da primeira temporada, o personagem de Genny sofre uma transformação digna de Leonard “Pyle” Lawrence, soldado interpretado por Vincent D’Onofrio, no filme de Stanley Kubric, “Nascido para Matar”.

“Gomorra” é uma adaptação vagamente inspirada no livro-reportagem de Roberto Saviano. Alguns elementos do livro estão presentes, mas a série se aprofunda na hierarquia e distribuição dos vários clãs camorristas da cidade de Nápoles. 

Gomorra (Itália – 2014)

Título Original: Gomorra, La Serie

5 temporadas – 58 episódios 

Elenco:  Marco D´Amore (“Uma Vida Tranquila”), Salvatore Esposito (“Fargo”), Fortunato Cerlino (“Inferno”), Maria Pia Calzone (“Equilibrium”) e Marco Palvetti (“Medici: Mestres de Florença”)

A série completa faz parte do catálogo da HBO Max. O trailer está disponível aqui. 

La Banda della Magliana 

A Banda della Magliana é como foi apelidada a organização que surgiu em Roma, no final dos anos 70. Formada por jovens delinquentes do bairro da Magliana, periferia sudoeste de Roma, em pouco tempo, dominaram o submundo da capital. Em associação com a Camorra, passaram a controlar o tráfico de drogas, a prostituição, as apostas em corridas de cavalos e muitas outras atividades. O grupo também está ligado aos sequestros e assassinatos, ocorridos em Roma durante os 20 anos que esteve em atividade. 

 

Ligações Criminosas

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No fim dos anos 70, Freddo, Libanês e Dandi formam um grupo que vai chacoalhar as estruturas da velha Roma. Depois da conclusão desastrosa do sequestro do Barão Rosellini, eles chegam a um caminho sem volta. Em parceria com a Camorra, passam a controlar do tráfico de drogas e outras atividades criminosas. A violência do bando atrai a atenção do comissário Scialoja, que inicia uma verdadeira cruzada pessoal para levar todos à prisão. Mas esse só o começo de uma história cheia de traição e paixões sem controle. 

Lançado em 2002, o livro ‘Ligações Criminosas’, escrito pelo ex-juiz Giancarlo De Cataldo venceu o prêmio Scerbanenco. Nascido em Taranto, em 1974, De Cataldo mudou-se para Roma para cursar a faculdade de Direito. Atuando como juiz, acompanhou de perto os acontecimentos da capital que envolveram os membros da Banda della Magliana e inspiraram os personagens de seus livros.

Ligações Criminosas (Itália – 2015)

Título Original: Romanzo Criminale, La Serie

2 temporadas – 23 episódios

Elenco: Vinicio Marchioni (“Terceira Pessoa”), Francesco Montanari (Il Cacciatore”), Alessandro Roja (“La Figa”), Marco Bocci (“Infiltrado na Máfia”), Marco Giallini (“Perfeitos Desconhecidos”), Antonio Gerardi (“A Garota na Névoa”)

Trailer: aqui

Il Clan dei Casalesi

Organização mafiosa que surgiu na metade do século XX, em di San Cipriano d’Aversa, na região da Campânia. Apesar de ter sua base na província de Caserta, as atividades do grupo estenderam-se para as regiões do Vêneto e da Emilia-Romagna. Nos anos 2000, o comando do clã passou a ser dividido por dois chefes, Antonio Iovineo, que cuidava dos negócios no norte da Itália e no leste europeu, e Michele Zagaria, que tomava conta das operações em Roma. Condenados à prisão perpétua, ficaram foragidos por mais de 15 anos. Com a prisão de Iovineo, em 2010, o comando passou para Zagaria. Mas seu reinado durou pouco. Em 2011, durante uma mega operação policial, ele e mais 40 membros do clã foram presos. 

O Cerco

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Michele Romano é o chefe do esquadrão Anti-Máfia de Nápoles e sua missão é capturar  Antonio Iovine, mafioso condenado, que está foragido há 14 anos. Procurado em toda Itália, Ninno Iovine comanda as operações do grupo de um esconderijo em Casal di Principe.

Minissérie inspirada em eventos reais, que ocorreram no começo da década e levaram à prisão de um dos chefões do clã mafioso dos Casalesi

O Cerco (Itália – 2015)

Título Original: Sotto Copertura  

Elenco: Claudio Gioè (“A Máfia Só Mata no Verão”), Guido Caprino (“Medici: Mestres de Florença”), Antonio Folletto (“Gomorra, la serie”), Simone Montedoro (“O Comissário Montalbano”) e Antonio Gerardi (“A Porta Vermelha”) 

Sotto copertura: La cattura di Zagaria

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Depois da bem sucedida captura de Antonio Iovine, o esquadrão Anti-Máfia vai atrás do homem mais procurado da Itália: Michele Zagaria. O chefe do clã camorrista de Caserta continua à frente dos negócios do império criminoso, comandando todas as atividades de seu bunker em Casapesenna.

O personagem Michele Romano é inspirado em Vittorio Pisani, comissário chefe do esquadrão que prendeu os dois chefões do Clã dos Casalesi.

Sotto copertura: La cattura di Zagaria (Itália – 2017) 

Título Original: Sotto copertura: La cattura di Zagaria  

Elenco: Claudio Gioè (“A Máfia Só Mata no Verão”), Alessandro Preziosi (“O Primeiro que Disse”) Matteo Martari (“Non Uccidere”), Erasmo Genzini “L’isola di Pietro”) Antonio Folletto (“Gomorra, la serie”), Simone Montedoro (“O Comissário Montalbano”) e Antonio Gerardi (“A Porta Vermelha”) 

Quer ver o trailer? Clica aqui!

Il Clan dei Camorristi

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Durante o terremoto de Irpina, em novembro de 1980, Raffaele Cutolo, o chefão da Camorra, resolve promover um acerto de contas e matar todos os desafetos. Francesco Russo, um ladrão pé de chinelo, Antonio Ruggero, braço direito do capo do Clan dei Casalesi, Antonio Vescia. Um ano depois, o juíz Andrea Sposito volta à Castello d’Aversa, sua cidade natal, onde Russo é agora um mafioso em ascensão. 

Os personagens são baseados em pessoas reais e a fictícia cidade de Castello d’Aversa é, na verdade, San Cipriano d’Aversa, sede do clã dos Casalesi. 

Il Clan dei Camorristi (Itália – 2013)

Título Original: Il clan dei camorristi  

1ª temporada – 8 episódios

Elenco: Stefano Accorsi (“A Culpa é do Fidel” e “O Árbitro”), Giuseppe Zeno (“Família Soprano”), Massimo Popolizio (“A Grande Beleza”), Massimiliano Gallo (“O Primeiro que Disse”)

Trailer: aqui

‘Ndrangheta 

Considerada uma das mais violentas organizações criminosas em atividade, a ‘Ndrangheta (corruptela de “andragathia“, que em grego significa coragem e lealdade), máfia calabresa, se baseia em laços de sangue e tem uma estrutura menos hierárquica, embora mais fechada que suas rivais na Sicília e em Nápoles. Seus comandantes costumam ser jovens e não se incomodam de fazer negócios com grupos internacionais, como os cartéis colombiano e mexicano. Graças à isso, ‘Ndrangheta controla a maior parte do tráfico de droga na Europa. 

Apesar de seus domínios estarem concentrados na parte mais pobre da Itália, a organização criminosa é atualmente a mais influente no território italiano.  

Infiltrado na Máfia

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Depois de anos trabalhando como infiltrado, o agente Marco ‘Solo’ Pagani recebe a missão de colaborar com uma investigação da Interpol. Para isso ele tem que ganhar a confiança da família que domina a ‘Ndrangheta. Em uma transação com um traficante de armas ucraniano que dá errado, Marco salva a vida do filho de Antonio Corona, chefão da máfia calabresa.

O trunfo da série é falar sobre ‘Ndrangheta, organização mafiosa mais poderosa na Itália, sobre a qual se tem pouca informação, e seu código de silêncio, a omertà. A direção fica a cargo de Michele Alhaique, que recebeu muitos elogios pelo seu filme de estreia “Senza Nessuna Pietà”, de 2014.

Infiltrado na Máfia (Itália – 2016)

Título Original: Solo   

2 temporadas – 8 episódios

Elenco: Marco Bocci (“Ligações Criminosas”), Renato Carpentieri (“A Ternura”), Peppino Mazzotta (“Almas Negras”), Vincent Riotta (“Sob o Sol da Toscana”) 

As duas temporadas estão disponíveis na Prime Video. O trailer está aqui

Trust

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No verão de 1973, o neto de Jean Paul Getty, na época o homem mais rico do mundo, é sequestrado. Recusando-se a pagar o resgate, J. Paul manda um homem de sua confiança a Roma para investigar a vida e os amigos do neto. Enquanto isso, os sequestradores, que estão escondidos em uma caverna nas montanhas da Calábria, se cansaram de esperar pelo dinheiro e resolvem provar que não estão para brincadeira. 

A história do sequestro de John Paul Getty III rendeu também um filme, “Todo o Dinheiro do Mundo”, com Kevin Spacey no papel principal. A curiosidade é que o filme teve que ser refeito às pressas, com Christopher Plummer como protagonista, depois que surgiram as denúncias de assédio sexual contra Spacey. A série é dirigida por Danny Boyle, ganhador do Oscar por “Quem Quer Ser Milionário”. O roteirista Simon Beaufoy não deixou de fora da história um dos maiores mitos sobre a ‘Ndrangheta: ela teria usado parte do dinheiro do resgate para construir o porto de Gioia Tauro, o maior da Itália, que permitiu que a organização mafiosa se espalhasse por todo o mundo. 

Trust (Estados Unidos & Reino Unido – 2018)

Título Original: Trust  

1ª temporada – 10 episódios

Elenco: Donald Sutherland (“Inverno de Sangue em Veneza” e “M.A.S.H.”), Hilary Swank (“Meninos não Choram” e “Menina de Ouro”), Luca Marinelli (“Uma Questão Pessoal” e “Não Seja Mau”),  Brendan Fraser (“A Múmia” e “Crash: No Limite”) e Harris Dickinson (“Ratos de Praia”)

As minissérie faz parte do catálogo da Star+. O trailer está aqui

Mafia Capitale

Em 2012, um artigo na revista L’Espresso denunciou a presença de uma organização criminosa, que dividiu Roma em várias regiões. Meses depois, chegaram ao promotor provas, que confirmavam que uma organização mafiosa estava realmente agindo em Roma e região. Mantendo negócios ilícitos e outros legais, o grupo estava fortemente ligado a empresários, políticos, policiais, membros do clero e funcionários da municipalidade para conseguir o controle das atividades econômicas e vencer concorrências públicas. Foram identificados como líderes o presidente da cooperativa “29 de junho”, Salvatore Buzzi, e o ex-terrorista de direita Massimo Carminati, considerado o chefe. A mídia batizou o grupo com a alcunha de “Mafia Capitale”, mas em junho deste ano, a “Corte di Cassazione” declarou que a associação criminosa não pode ser denominada máfia, e sim delinquentes envolvidos com corrupção. Não é Máfia, mas tem cara de Máfia, tem cheiro de Máfia, então decida você…

Suburra: Sangue em Roma

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Aureliano Adami é o filho irresponsável e violento do chefe que controla o tráfico de droga no litoral romano da Ostia. Ignorando a tradição de passar os negócios para o filho homem, o pai transforma a filha Lívia em sua sucessora. A situação de Spadino Anacleti não é muito diferente. Seu irmão, chefe do bando de ciganos, busca respeito e reconhecimento no submundo da capital e precisa fazer alianças. Para isso, arranja o casamento entre o caçula e a filha do chefe rom. Só tem um pequeno problema, Spadino é homossexual e não está interessado nos negócios da família. O terceiro elemento desta estranha mistura é Lele, o protótipo do bom rapaz, filho de um policial, estudante universitário com um futuro promissor pela frente. Só que as coisas são muito diferentes na realidade, Lele organiza orgias, regadas a drogas e garotas de programa para políticos e pessoas influentes. E é exatamente em uma dessas festas que a vida dos três se cruza. 

Suburra, a primeira série italiana produzida para a Netflix, é um ‘prequel‘ do filme homônimo de Stefano Sollima, baseado no romance escrito a quatro mãos de Giancarlo De Cataldo e Carlo Bonini. A primeira temporada traz nomes de peso na direção, como Michele Placido, Andrea Molaioli e Giuseppe Capotondi.  

Suburra: Sangue em Roma (Itália – 2017)

Título Original: Suburra, la série  

2 temporadas – 18 episódios

Elenco: Alessandro Borghi (“Na Própria Pele: o Caso Stefano Cucchi” e “Devils”), Giacomo Ferrara (“Guarda in Alto”), Filippo Nigro (“A.C.A.B. – All Cops Are Bastards”), Claudia Gerini (“A Paixão de Cristo”), Pietro Ragusa (“A Vida Marinha com Steve Zissou “), Eduardo Valdarnini (“Pasolini”)

As três temporadas de “Suburra: Sangue em Roma” estão no catálogo da Netflix. O trailer você confere aqui

Sacra Corona Unita

Considerado o menor grupo mafioso da Itália, a Sacra Corona Unita, tem sua sede na Puglia. Pela proximidade com os Bálcãs, suas atividades principais são o tráfico humano, de armas e de drogas, além de todo tipo de contrabando. 

A ligação com grupos criminosos do leste europeu colocou a Sacra Corona na mira da Interpol e do FBI. 

Racket 

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Guido Gerosa é um um ex-policial que à procura de uma vida mais tranquila, muda-se com a família para Biella, cidade do norte. A chegada de Vincenzo Grumo, chefão da máfia pugliese, que pretende controlar a região, causa grandes transtornos. Guido se vê forçado a liderar a revolta dos comerciantes locais, obrigados a pagar uma taxa para continuarem funcionando. A retaliação do boss mafioso provoca uma tragédia na família de Gerosa. 

O personagem principal é baseado em Tano Grasso, ex-comerciante que fundou a primeira associação anti-usura e anti-extorsão, nos anos 90. 

Racket (Itália – 1996)

Título Original: Racket, Il cittadino si ribella  

1 temporada – 6 episódios

Elenco: Michele Placido (“O Crocodilo” e “As Idades do Amor”), Fiorenza Marchegiani (“Elisa di Rivombrosa“), Massimo Bonetti (“Noites Com Sol”) Giusi Cataldo (“As Idades do Amor”)

O trailer está aqui

Pequenas coisas que resultaram na grande noite azzurra em Berlim

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Há 3.653 dias, a seleção italiana realizava o sonho do tetracampeonato, acalentado por 24 anos. A Azzurra tinha saído de casa desacreditada, mergulhada em escândalos e com a obrigação de provar muito para si mesma. Marcello Lippi conseguiu transformar um grupo de jogadores em um bando de irmãos, que juntos fizeram história e escreveram mais um capítulo dessa fábula chamada futebol.

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A primeira adolescência de Gigi Buffon

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Como tantos outros jogadores de futebol, Gianluigi Buffon não teve direito a uma adolescência normal. Começou a carreira no Parma em 1991, aos 13 anos e, 2 anos depois, foi convocado pela primeira vez para a seleção. Com 17 anos, já veterano na Squadra Azzurra, foi promovido a goleiro principal do Parma. Em 2001, chegou à Juventus, e imediatamente virou o camisa 1. Hoje, 19 anos depois, Buffon coleciona títulos e continua batendo recordes.

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As 10 partidas mais importantes da carreira de Del Piero segundo ele

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Hoje, 9 de novembro, Alessandro Del Piero faz 41 anos. Jogador mais importante da história da Juventus, detentor de todos os recordes, campeão do mundo em 2006, entrou em campo 688 vezes, 585 por clubes e 103 com a camisa da seleção italiana.

Em 2010, no seu livro “10+ O meu mundo em um número”, Del Piero elegeu as 10 partidas mais importantes da carreira. O gol mais importante? O de número 183, contra a Fiorentina pela Copa Itália, quando bateu o recorde de Gianpiero Boniperti e se tornou o maior goleador da história da Velha Senhora. Auguri, Capitano!

1. Itália x França – Final da Copa do Mundo, Berlim, 9 de julho de 2006

2. Alemanha x Itália – Semifinal da Copa do Mundo,  Dortmund, 4 de julho de 2006

3. Juventus x Ajax – Final da Liga dos Campeões, Roma, 22 de maio de 1996

4. Juventus x River Plate – Final da Copa Intercontinental, Tóquio, 26 de novembro de 1996

5. Itália x México – Grupos da Copa do Mundo, Oita, 13 de junho de 2002

6. San Vendemiano x Orsago – San Vendemiano, 10 de novembro de 1987

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7. Juventus x Real Madrid, Quartas de final da Liga dos Campeões, Turim, 20 de março de 1996

8. Juventus x Fiorentina, Quartas de final Copa da Itália, Turim, 10 de janeiro de 2006

9. Juventus x Fiorentina, 12ª rodada da Serie A, Turim, 4 de dezembro de 1994

10. Borussia Dortmund x Juventus – Grupos da Liga dos Campeões, Dortmund, 13 de setembro de 1995

Gaetano Scirea

Gaetano Scirea

1989, o verão europeu está terminando e, pelo campeonato polonês, jogam ŁKS Łódź e Górnik Zabrze. Na arquibancada, o jovem assistente técnico da Juventus de Turim observa o próximo adversário da Copa da UEFA. Na sua caderneta ele faz valiosas anotações sobre o atacante Ryszard Cyroń, marcador dos dois gols do Górnik Zabrze na partida daquele sábado.

O jogo termina tarde, deixando a volta para casa para o dia seguinte, logo depois da missa. O assistente sabe que tem pela frente 4 horas de viagem até Varsóvia, onde um voo para Turim o aguarda. O motorista parece ter pressa, porque o Fiat 125P está muito acima da velocidade permitida. Uma decisão instintiva, a ultrapassagem perigosa e, em questão de segundos, surge à sua frente um caminhão que transporta combustível. Em poucos minutos, o veículo está em chamas. Aos 36 anos, Gaetano Scirea está morto.

Scirea nasceu no dia 25 de maio de 1953, em Cernusco sul Naviglio, na Lombardia. Criado nas categorias de base do Atalanta, onde jogou de 1972 a 1974, foi na Juventus que ele conquistou tudo.

Gai, como era conhecido, é um dos cinco jogadores da história do futebol europeu que venceu todos os troféus internacionais reconhecidos pela UEFA e pela FIFA. Foram sete scudetti, duas Copas da Itália, uma Copa UEFA, uma Copa dos Campeões, uma Recopa UEFA, uma Supercopa europeia, um Mundial Interclubes e uma Copa do Mundo. Em sua imaculada carreira, talvez, o recorde que mais o represente é o de nunca ter sido expulso.

Como Scirea nenhum outro

Personagem raro no mundo do futebol, sobre Gaetano Scirea se pode escrever muito, mas nunca o suficiente. Impossível descrevê-lo sem repetir adjetivos como classe, talento, elegância, decência, gentileza e personalidade. Um cavalheiro com uma leitura incomparável do jogo, líbero por definição, como poucos. Ao contrário de Franz Beckenbauer e Franco Baresi, dois mitos na posição, que eram defensores que avançavam, Scirea era defensor quando estava na defesa e atacante quando estava no ataque. A “Velha Senhora” não amou ninguém como amou Gaetano.

Um dos protagonistas da conquista italiana de 82 – de seus pés saiu o passe para o gol de Tardelli que rendeu à Itália o tricampeonato – já tinha se destacado na Copa da Argentina, em 1978. Sua aventura azzurra terminou depois da Copa de 86, no México. Para dar a dimensão da importância de Scirea na seleção italiana basta lembrar que por causa dele Baresi passou seis anos na reserva.

Fora do campo

As homenagens não se limitam ao futebol No dia 26 de agosto de 2011, a banda Stadio lançou a musica “Gaetano e Giacinto”, dedicada a Scirea e Facchetti. Mesmo sem nunca ter pisado nos gramados nem do Delle Alpi nem do Juventus Stadium, a curva sul dos ultras juventinos leva seu nome.

Em sua memória foi criada a “Coppa Gaetano Scirea”, torneio internacional de futebol juvenil, realizado anualmente na cidade de Matera. A prefeitura de Turim deu seu nome à uma rua, no bairro de Mirafiore, zona periférica. Um prêmio para quem sempre preferiu os campinhos de várzea aos sofisticados parques da cidade piemontesa.

“Dizem que durante a partida, um jogador se transforma: bobagem, você é apenas você. Conta o instinto, ali não existe o freio da inteligência, aparece o profundo. E o profundo de Scirea era Scirea. Um defensor que nunca foi expulso porque para ele bastava a classe. Nunca vi ninguém mais elegante, com a cabeça erguida. E pureza do toque era a pureza moral. Homens importantes: quanta riqueza. Hoje a exasperação de tons me faz sentir ainda mais profundamente o vazio da perda. Gaetano me faz falta no caos das palavras inúteis, dos valores absurdos, das bobagens. Sinto falta do seu silêncio retumbante.” (Dino Zoff)

Às vezes, o futebol esquece e é preciso recordar. Gaetano Scirea era número 6 e escreveu seu nome na história do futebol. Discreta e timidamente. É preciso recordar que ele foi grande. Muito além dos títulos, poucos jogadores conquistaram a admiração e o respeito de companheiros e adversários. Saiu de cena sem alarde, como tudo que fez na vida.

São passados 26 anos daquele 3 de setembro de 1989. O tempo, que marca nossa vida, insiste em nos lembrar que os grandes não envelhecem e não morrem. Eles vivem na chama eterna da memória.

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  • Publicado originalmente no site “Todo Futebol”

Copa 2014 – No clube dos estrelados, Itália e Brasil são os grandes perdedores

A festa acabou, agora começa a ressaca do Mundial. Enquanto Alemanha, merecidamente, é coroada a rainha do baile, sobrou o rescaldo para quem crash and burn durante a Copa do Mundo. A Azzurra, tetracampeã, ficou na primeira fase, perdeu o rumo, o técnico e toda a cúpula do futebol. Sai do mundial sem glória e com uma boa crise de identidade. O Brasil conseguiu fazer pior. Perder uma Copa em casa não era novidade, mas desta vez nos superamos. O futebol brasileiro foi esmagado, sob o olhar incrédulo de bilhões de expectadores, pela nova Alemanha. Uma Alemanha paz e amor, mais brazuca que a bola da Copa e que os 23 convocados por Luis Felipe Scolari.

O futebol italiano está agonizando. O futebol brasileiro está em coma. Agora é preciso descobrir se ainda existe alguma chance de reanimação. O que é possível dizer, sem medo de errar, é que a recuperação será longa e dolorosa. Mas, antes de desligar os aparelhos, vamos analisar os sintomas e ver se ainda dá para salvar o paciente.

 

1- Técnico não é Deus

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Cesare Prandelli e Luis Felipe Scolari tentaram impôr um estilo, que desde o começo parecia fadado ao insucesso. Prandelli e seu ‘Código Ético’, bastante duvidoso, que usava dois pesos e duas medidas e punia alguns e deixava passar faltas graves. Scolari tentou reeditar a fórmula de 2002, sem se dar conta que 12 anos se passaram e o futebol evoluiu. Se a seleção italiana é menos ‘marketeira’ que a brasileira, também pecou por se preocupar mais com a camisa modernosa que com a preparação para a competição mais importante do futebol. Scolari com sua já conhecida arrogância deitou sobre os louros da conquista de 2002 e achou que ganhar a Copa das Confederações significava alguma coisa.

 

2- Jogador estrela nem sempre brilha

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Balotelli era a grande promessa da Itália. Prandelli sempre perdoou as derrapadas de Mario, insistindo que ele era só um menino rebelde carente de atenção. Neymar era a grande esperança do Brasil, mas sozinho ninguém faz nada. Balotelli saiu do mundial sem dizer a que veio. Para Neymar sobrou a constrangedora tarefa de explicar o inexplicável em uma coletiva ridícula.

3- É impossível ser feliz sozinho

A Itália tem Pirlo, um dos ‘senadores’, campeão de tudo nos últimos 10 anos. Pirlo é um dos maiores centrocampistas do mundo, disso ninguém tem dúvida, mas não joga sozinho. Quando é bem marcado, a Itália não cria nem joga. Só Prandelli não sabia disso. O Brasil tem Júlio César, que já viu melhores dias e gramados mais verdes. Jogar a responsabilidade de liderar uma seleção sem pé nem cabeça pra cima do pobre goleiro brasileiro é, no mínimo, cruel. Júlio César está no mesmo barco que Casillas, foi do céu ao inferno, desmoronou emocionalmente e saiu da Copa pior do que entrou.

4- A estrutura balança-mais-não-cai

Tanto a FIGC quanto a CBF estão há décadas nas mãos dos mesmos. A federação italiana é até mais organizada que a brasileira, criou um centro de treinamento, em Coverciano, e mantém cursos de aperfeiçoamento para treinadores. No papel até funciona. A CBF é a várzea que todos nós conhecemos.

5- Eurocopa e Copa das Confederações são ouro de tolo

A Espanha ganhou a Euro e perdeu de 5 a 1 para a Holanda na estréia da Copa. A Fúria e seu tiqui-taca começaram a naufragar na Copa das Confederações, quando os jogadores espanhóis estavam mais preocupados em curtir a praia e farrear com as moças faceiras de Fortaleza. Em um ano muita coisa aconteceu, Casillas foi para o banco e o resto do time amargou contusões e momentos menos brilhantes. O Brasil também acreditou que ganhar a Copa das Confederações era um bom sinal. A Itália, vice-campeã da Euro, nunca mais consegui jogar tão bem quanto na competição europeia e sofreu em algumas partidas das eliminatórias. Enquanto ninguém prestava atenção, a Alemanha fazia a sua parte e se preparava para a competição que realmente vale.

6- Os favoritos do ‘Professor’ sempre decepcionam

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Prandelli sempre teve um fraco por Cassano e Balotelli, apesar deles renderem mais manchetes pelo mau comportamento que pelo que jogam. Criou um ‘Código Ético’ para ver se eles entravam na linha e acabou julgado por sempre olhar para o outro lado a cada bobagem que os dois faziam em campo. Cassano fez um campeonato razoável pelo Parma, seu enésimo time em 15 anos de carreira como profissional. O que fez durante a temporada não garantiria uma convocação. Balotelli, como todo o Milan, foi uma sombra do que tinha sido nos últimos dois anos. A Itália perdeu Montolivo às vésperas da Copa e Prandelli se viu numa camisa de 11 varas, que o obrigou a manter na lista dos 23 alguns que ele pretendia cortar. A grande sacanagem foi convocar Giuseppe Rossi, que estava em franca recuperação, e cortá-lo da lista final. Lippi apostou em Totti, em 2006, e saiu-se muito bem. Não deu a mesma sorte com Pirlo em 2010. Depois da vitória na Copa das Confederações, Felipão falou para quem quisesse ouvir que a seleção para a Copa era Júlio César mais 10. Não levou em conta que Júlio César, numa vertiginosa espiral descendente, não estava nem no banco do Queens Park Rangers, time da segunda divisão inglesa. Como sempre pode piorar, foi vendido para o obscuro Toronto FC. Scolari apostou em Maicon e em Fred, dois jogadores decadentes, ignorando os protestos da imprensa esportiva e da torcida. Em comum, os dois técnicos têm a soberba de querer provar que tem sempre razão, mesmo quando a realidade mostra exatamente o contrário.

7- Quando a demissão é uma farsa

Depois da goleada de 7 a 1, todos esperavam que Scolari se demitisse. A imprensa esportiva brasileira chegou a usar como exemplo a atitude de Prandelli, que jogou a toalha após a eliminação da Itália, pegando todo mundo de surpresa. De Scolari não se podia esperar a mesma coisa, visto que o Brasil ainda tinha que disputar a partida pelo 3º lugar. Largar a seleção faltando um jogo seria, no mínimo, estúpido. Prandelli e Felipão são pessoas diametralmente diferentes. Cesarone é educado e Scolari não prima pela delicadeza. O que Pradelli fez está longe de ser uma atitude nobre. Dez dias depois de dizer que não treinaria um time de futebol por um ano, assinou com o Galatarasay e se mandou da Itália. Scolari fez o jogo da CBF e pagou caro. O treinador, após derrubar o Palmeiras para a Série B, foi premiado com o cargo máximo do futebol brasileiro. Como diz o ditado ‘Quem dorme com cobras, amanhece picado’. Scolari dormiu técnico e acordou no olho da rua.

8- Depois da queda vem o chorume

No dia da derrota para o Uruguai, o chumbo trocado começou na zona mista. Buffon e De Rossi desceram a lenha nos jogadores jovens da seleção italiana, que sumiram em campo e na hora da derrota, deixando para eles a inglória tarefa de dar explicações. Na volta para a Itália foi a vez de Antonio Cassano defender os companheiros e atacar os ‘senadores’, especialmente Buffon. Em seguida veio a entrevista de Prandelli, que virou a metralhadora contra Balotelli, a quem sempre defendeu. Enfim, o chorume rolou solto. No Brasil a coisa foi um pouco diferente. Nenhum jogador veio abertamente falar sobre o clima na Granja Comary nem atacar a comissão técnica. Ainda. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos

9- Sem estrelas no futuro próximo

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A Alemanha começou a reformulação do futebol no dia seguinte à eliminação da Copa disputada em casa. Começar do zero é uma coisa que alemão sabe fazer bem. Para seguir o exemplo alemão, tanto o futebol italiano quanto o brasileiro já estão atrasados. O comando da federação italiana continua vago e aqueles que decidirão o futuro do futebol italiano estão curtindo as férias de verão. A CBF fez uma ‘faxina’, demitiu da comissão técnica ao office boy, mas o comando passará de José Maria Marin para Marco Polo Del Nero, presidente eleito da CBF. Tudo muda, tudo fica igual. E o penta da Itália e o hexa do Brasil estão mais distantes que nunca. O problema é a Alemanha pegar gosto de bordar estrelas na camisa.

10- Recomeçamos daqui

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Se Itália e Brasil tem alguma pretensão de voltar à elite do futebol, precisam começar agora o Ano Zero. Nada vai apagar as campanhas lamentáveis da Azzurra nas duas últimas Copas nem o histórico 7 a 1 que o Brasil levou da Alemanha. Quem ama futebol tem que estar preocupado. Se a solução for contratar um técnico estrangeiro, que esteja disposto a encarar esses dois desafios, bem-vindo, a casa é sua, não repare na bagunça. O que a Itália tem para oferecer é um estrutura de base bastante satisfatória, porque nem tudo que foi feito desde 2006 é digno de ser jogado no lixo. O Brasil não tem nada para oferecer. Talvez o ideal seja começar com um mea culpa.

Itália e Brasil precisam de um desfibrilador, de uma injeção de adrenalina e de um sinal de que o pulso ainda pulsa.

“55 Secondi” – Il futuro non è scritto

“Lascia che ti racconti storie dei mesi dell’anno, di fantasmi e cuori infranti, di terrore e desiderio. Lascia che ti racconti di bevute fino a tardi e telefoni senza risposta, di buone azioni e brutti giorni, di distruzioni e ricostruzioni, di uomini morti che camminano e padri perduti, di piccole fanciulle francesi a Miami, di lupi sinceri e di come parlano alle ragazze. Ci sono storie nelle storie, sussurrate nelle orecchie nella quiete della notte, gridate sopra il boato del giorno, e recitate tra amanti e nemici, stranieri e amici. Ma tutte, tutte sono cose fragili, fatte unendo solo 26 lettere sistemate e risistemate ancora e ancora per formare racconti e immagini che, se glie lo permetti, abbaglieranno la tua immaginazione e ti commuoveranno fin nel profondo della tua anima.” (Neil Gaiman) 

 

La fotografia ha il potere di fermare il tempo. Alcune immagini, più di altre, possono catturare un momento ed immortalarlo. Questo è il caso della copertina del “Jornal da Tarde” del 6 luglio 1982, che per me è la prima pagina più rimarchevole del giornalismo brasiliano. Tutto il sentimento di un popolo catturato dalle lenti di Reginaldo Manente. C’è un’altra foto, questa volta un salto di gioia, un uomo a librarsi in aria. Due momenti diversi, di tristezza e di gioia, i due estremi dello spettro delle emozioni umane, che meriterebbero esserci nella “capsula del tempo”, il messaggio nella bottiglia che Carl Sagan ha inviato nello spazio a bordo della Voyager, insieme a saluti in 55 lingue, ai suoni della natura, Bach, Beethoven, Mozart e “Johnny B. Goode” per spiegare ad altre vite di altri mondi chi siamo, di che cosa siamo fatti e tutta la sintesi di ciò che è un“essere umano”.

 

La storia della foto della prima pagina tutti noi conosciamo. In verità, ho evitato leggere e guardare il video che mostra l’incontro tra il ragazzino della foto e Paolo Rossi. No, grazie, perché non ho bisogno che nessuno mi spieghi cosa ho sentito quel giorno. Dell’altra foto, dell’uomo a librarsi in aria, non sapevo nulla. Forse, per questa ragione, un libro su questo soggetto mi ha sembrato così affascinante.

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“55 Secondi” racconta la storia di quella foto. La storia di cose fragili, di sogni distrutti e di cuori infranti. La storia dell’aspettativa di un momento particolare di vita, la fine dell’innocenza, il primo e più doloroso cambio di pelle che significa crescere. Io potrei riassumere dicendo che è la storia di come  due ragazzini romani – e tutta una città – ha vissuto la partita più importante della loro vita, ma questa sarebbe una visione redutiva di cosa rappresenta questo libro. È la storia di un 30 maggio che ha deffinito i 30 seguenti. Perché il 30 maggio 1984 non è soltanto il giorno in cui Roma ha giocatto la sua prima finale della Coppa dei Campioni, in un’epoca in che soltanto i campioni partecipavano del torneo.  Perché il 30 maggio non è una partita, non è un punto di partenza, ma un punto d’arrivo. E la grande bellezza del libro non è quella di raccontare una partita, ma l’attesa, il modo com’è stata vissuta, vista e percepita da questi due ragazzi, uno di 11 e l’altro di 14 anni. Questo libro è una resa dei conti con la fine dell’infanzia, è un debito da pagare con se stesso e con tutti gli altri che non sono in grado di usare le parole per descrivere in modo così semplice e commosso ciò che quella immagine rappresenta. È un libro fatto per i figli. È un legato. 

 

Tonino Cagnucci e Paolo Castellani sono i due bambini narratori di questa storia. Tra la filosofia e il calcio,  Cagnucci ha scelto di fare del calcio la sua poesia. Castellani si è avviato per la strada dell’arte. Si tratta di uno studioso, un collezionista e la sua Mona Lisa è la maglia che Agostino Di Bartolomei ha vestito in quel 30 maggio. Agostino Di Bartolomei è l’uomo che vola in quella foto. È l’uomo che ha scelto un altro 30 maggio, dieci anni dopo, per lasciare il mondo. Questo libro è, in un certo modo, necessario per spiegare l’altro 30 maggio e per fare un altro omaggio a Di Bartolomei.

 

Non ha importanza, se il calcio ti piace o meno, questo è un libro che dovrebbe essere letto senza pregiudizi, perché oltre che un libro sul calcio, ne parla della vita. Questo viaggio per la memoryland, è una passeggiata mano nella mano con questi due ragazzini per una Roma sconosciuta, tutta dipinta di giallo e rosso, chiassosa e piena di chimera, che respirava un profumo di speranza e sognava lo stesso sogno per tutti. È anche il ritratto di una generazione che ha letto troppo, ha sentito molta musica, ha visto e ha sentito troppo, e adesso prova a spiegare a quelli che ce l’hanno tutto in un click, com’era vivere tanto avendo quasi niente. Tutta l’emozione di sentire una partita di calcio alla radio, di usare più l’immaginazione che altri sensi. L’ultima generazione analogica della storia che ha visto Blade Runner ed è uscita dal cinema pensando che uno scanner fotografico era una cosa quasi tanto impossibile come il teletrasporto. La generazione che ha vissuto ogni piccola gioia sapendo che, in fondo, di piccola non ne avevano nulla. “Io ne ho viste cose che voi umani non potreste immaginarvi”, voi della generazione del iPhone, delle SmartTVs, dell’internet a fibra ottica, delle reti sociali, voi non fate la minima idea. E com’era meraviglioso immaginare, sognare, desiderare qualcosa. Non esiste una vita senza musica e ogni capitolo è permeato dalla colonna sonora del 1983-84 – tranne dei The Clash perché loro sono eterni e sempre attuali – The Cure, Lotus Eaters, The Police, U2, The Smiths, Wham ed Antonello Venditti. La musica che descriveva il mondo, la vita e l’amore che noi, umani, avremmo un giorno sentiti. 

 

È impossibile passare per la vita senza perdere qualcosa, senza cicatrici.  C’è bisogno di fare i conti col passato, per andare avanti, anche se, a volte, sembri difficile trovare la forza per farlo. Il modo in cui Cagnucci e Castellani hanno trovato per raccontar un’altra volta il miglior, il più grande, il più incredibile, il più eclatante e il momento più terrificante della loro infanzia è una conversazione che attraversa i nove mesi della stagione romanista nella Coppa dei Campioni, senza lasciare di rendere omaggio all’avversario che distruggeva il sogno. Il libro inizia e finisce con una rispettosa riverenza al Liverpool, raccontando la finale della Champions League del 1977, tra Liverpool e Borussia Mönchengladbach, giocata a Roma, e il cerchio si chiude con “You’ll Never Walk Alone”, la canzone che il Liverpool ha tenuto per se e si libra sopra i cancelli di Anfield. In questo libro, in nessun momento, ma soprattutto in quella primavera indimenticabile del 1984, camminiamo da soli. La primavera prima dell’inverno del  scontento, prima dell’addio al divino Falcão, prima della tempesta che si avvicina e porterà via  il Barão e il Capitano a Milano, come sognava Prospero. “Siamo fatti anche noi della materia di cui son fatti i sogni; e nello spazio e nel tempo d’un sogno è racchiusa la nostra breve vita.”. E sogni di bambini, anche se delicati, sono dificile da uccidere. Dobbiamo parlare delle cose che ci fanno male perché 30 anni è un lungo tempo per trattenere il respiro. È necessario tornare a respirare, aprire le finestre e i cassetti, liberare i fantasmi, rinnovare i sogni, aver fiducia nel cuore e iniziare a scrivere una nuova storia.

 

Il calcio è una metafora della vita, delle battaglie quotidiane, dell’amore perso e riacquistato, delle piccole vittorie e delle grandi sconfitte.  No. Il calcio è la vita. È perderne qualcuna e vincerne altre. È la prossima partita. È l’attesa di qualcosa che ci fa sentire grande, anche se solo per 90 minuti. È la memoria che non si cancella mai. Il calcio è l’amore. Per una squadra, per i suoi colori, per la sua storia fatta di lacrime di gioia e di tristezza. Una storia fatta dagli uomini che non saranno mai comuni nel ricordo di un bambino. Il calcio è un’eredità che passa di generazione in generazione ed è stampata nel DNA. Il calcio sono quei 55 secondi sospesi nel tempo per 30 anni e per sempre. 55 secondi in cui tutto sembrava possibile. 55 secondi in cui la Roma era di nuovo il centro dell’universo, in cima del mondo, la più grande in Europa. Chi questo non capisce, mai capirà.

 

Lilian Trigo ama la fotografia, il cinema, la letteratura, la musica e il calcio. Non esattamente in questo ordine. Non ha paura di scarafaggio e crede che la miglior difesa è il distacco. Scrive con la mano destra ma calcia col piede sinistro.

*Publicado originalmente no Portale Eh Già

55 Segundos no topo do mundo

“Deixa que te conte histórias dos meses do ano, de fantasmas e corações partidos, de terrores e desejo. Deixa que te conte de bebedeiras até tarde da noite e de telefonemas sem resposta, de boas ações e dias ruins, de término e reconciliação, de homens mortos que caminham e pais perdidos, de moças francesas em Miami, de lobos confiáveis e de como falar com as meninas. Existem histórias dentro das histórias, sussurradas no ouvido no silêncio da noite, gritadas acima do rugido do dia, e representadas entre amantes e inimigos, estranhos e amigos. Mas todas, todas são coisas frágeis inventadas usando 26 letras arranjadas e rearranjadas uma vez e outra para formar contos e fantasias que, se você deixar, irão deslumbrar os seus sentidos, assombrar a sua imaginação e movê-lo para as profundezas da sua alma.” (Neil Gaiman)

 

A fotografia tem o poder de parar o tempo. Algumas imagens, mais que outras, conseguem captar um momento e eternizá-lo. É o caso da capa do Jornal da Tarde do dia 6 de Julho que, para mim, é a primeira página mais marcante da história do jornalismo brasileiro. Todo o sentimento de um povo capturado pelas lentes de Reginaldo Manente. Existe outra foto, desta vez um salto de alegria, um homem que paira no ar. Dois momentos distintos, de tristeza e de alegria, as duas pontas do espectro das emoções humanas, que mereceriam estar na ‘cápsula do tempo’, na mensagem na garrafa que Carl Sagan enviou para o espaço a bordo da Voyager junto com saudações em 55 línguas, os sons da natureza, Bach, Beethoven, Mozart e “Johnny B. Goode” para explicar para outras vidas de outros mundos quem somos, de que somos feitos e toda a síntese do que é ‘ser humano’.

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A história da foto da primeira página todos nós sabemos. Na verdade, evitei ler ou assistir o vídeo que mostra o encontro entre o menino da foto e Paolo Rossi. Agradeço e passo, porque não preciso que ninguém me explique o que senti naquele dia.  Da outra foto, a do homem suspenso no ar, não sabia nada. Talvez, por isso, um livro sobre ela me pareceu tão fascinante. 

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“55 Secondi” conta a história daquela foto. A história de coisas frágeis, de sonhos destruídos e corações partidos. A história da expectativa de um momento único na vida, do fim da inocência, da primeira e mais dolorosa troca de pele que significa crescer. Eu poderia resumir tudo dizendo que é a história de como dois meninos romanos – e toda uma cidade – viveram a partida mais importante de suas vidas, mas esta seria uma visão simplista do que este livro representa. É a história de um 30 de Maio que definiu os 30 seguintes. Porque o 30 de maio de 1984 não é apenas o dia em que a Roma disputou sua primeira final de Copa dos Campeões, numa época em que só os campeões participavam do torneio. O 30 de maio de 1984 não é uma partida, não é a partida, mas a chegada. E a grande beleza do livro não está em contar a partida em si, mas a espera, a maneira como ela foi vivida, vista e sentida por esses dois meninos, um de 11 e outro de 15 anos. Este livro é um acerto de contas com o fim da infância, é uma dívida paga com si mesmo e com todos os outros que não são capazes de usar as palavras para descrever de maneira tão simples e comovente o que aquela imagem representa. É um livro feito para os filhos. Um legado. 

Tonino Cagnucci e Paolo Castellani são os dois meninos narradores desta história. Entre a filosofia e o futebol, Cagnucci escolheu fazer do futebol sua poesia. Castellani enveredou pelo caminho da arte. É um estudioso, um colecionador e sua Monalisa é a camisa que Agostino Di Bartolmei usou naquele 30 de maio. Agostino Di Bartolomei é o homem que voa na foto. É o homem que escolheu um outro 30 de Maio, dez anos depois, para deixar o mundo. Este livro é, de certa forma, necessário para explicar o outro 30 de maio e para render mais uma homenagem a Di Bartolomei. 

Não importa se você gosta ou não de futebol, este é um livro que deve ser lido sem nenhum preconceito, porque mais que um livro sobre futebol, ele fala da vida. Esta viagem pela memoryland é um passeio de mãos dadas com esses dois meninos por uma Roma desconhecida, toda pintada de vermelho e amarelo, ruidosa e esperançosa, que respirava um perfume de esperança e sonhava toda o mesmo sonho. É também um retrato de uma geração que leu demais, ouviu muita música, viu e sentiu demais e agora tenta explicar para aqueles que têm tudo em um clique, como era viver tendo tanto sem ter quase nada. Toda a emoção de ouvir uma partida de futebol pelo rádio, usar mais a imaginação que os outros sentidos. A última geração analógica da história, que assistiu Blade Runner e saiu do cinema imaginando que um scanner de fotos era uma coisa quase tão impossível quanto o teletransportador. A geração que viveu cada pequena alegria sabendo, no fundo, que de pequenas elas não tinham nada. “Eu vi coisas que vocês não acreditariam”, vocês da geração dos iPhones, das SmartTvs, da internet por fibra, das redes sociais, não fazem idéia. E como era maravilhoso imaginar, sonhar, ansiar por alguma coisa. Não existe vida sem música e cada capítulo é permeado pela trilha sonora de 1983/84 – fazendo uma exceção ao The Clash, porque eles são eternos e sempre pertinentes – The Cure, Lotus Eaters, The Police, U2, The Clash, The Smiths, Wham e Antonello Venditti. A música que descrevia o mundo, a vida e o amor que nós, humanos, iríamos um dia sentir. 

É impossível passar pela vida sem perder algumas coisas, sem algumas cicatrizes. É preciso acertas as contas com o passado para poder seguir em frente, mesmo que, às vezes, pareça difícil encontrar a força para fazê-lo. A maneira que Cagnucci e Castellani encontraram para recontar o melhor, o maior, o mais incrível, o mais marcante e o mais terrível momento de sua infância é uma conversa que atravessa os nove meses da campanha romanista na Copa de Campeões, sem deixar de render homenagem ao adversário que destruir o sonho. O livro começa e termina com uma respeitosa reverência ao Liverpool, contando a da final da Copa de Campeões de 1977, entre Liverpool e Borussia Mönchengladbach , disputada em Roma, e fecha o círculo com “You’ll Never Walk Alone”, a música que o Liverpool tomou para si e paira acima dos portões de Anfield. Neste livro, em nenhum momento, mas especialmente naquela primavera inesquecível de 1984, caminhamos sozinhos. A primavera antes do inverno do descontentamento, antes do adeus do Divino Falcão, antes da tempestade que se avizinha e levará o Barão e o Capitano para Milão, como sonhava Próspero. “Somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos; nossa vida pequenina é cercada pelo sono”. E sonhos de criança, mesmo delicados, são difíceis de matar. Nós devemos falar sobre as coisas que nos fazem mal, porque 30 anos é muito tempo para prender a respiração. É preciso voltar a respirar, abrir as janelas, as gavetas, soltar os fantasmas, renovar os sonhos, confiar no coração e começar a escrever uma nova história.  

O futebol é uma metáfora da vida, das batalhas diárias, do amor perdido e reconquistado, de pequenas vitórias e grandes derrotas. Não. O futebol é a vida. É perder algumas e ganhar outras. É a próxima partida. É a expectativa de alguma coisa que nos faz sentir grandes, mesmo que só por 90 minutos. É a memória que nunca se apaga. O futebol é amor. Por um time, pelas suas cores e pela sua história feita de lágrimas de alegria e tristeza. Uma história feita por homens, que nunca serão comuns na lembrança de uma criança. O futebol é uma herança que passa de geração para geração e está impressa no DNA. O futebol são aqueles 55 segundos suspensos no tempo por 30 anos e para sempre. 55 segundos em que tudo parecia possível. 55 segundos em que a Roma era de novo o centro do Universo, no topo do mundo, a maior da Europa. Quem não entende isso, nunca entenderá. 

*Publicado originalmente no Portale Eh Già

 

Itália e Uruguai, duelo de campeões

Nove partidas, duas vitórias italianas, quatro empates e três vitórias do Uruguai. Estes são os números do confrontos entre os dois campeões do mundo que se enfrentam na última rodada da fase de grupos da Copa de 2014.

A primeira partida entre as duas seleções foi pelas seminais da Olimpiada de 1928, em Amsterdam. O dia 7 de junho de 1928 entrou para a história como o primeiro jogo oficial da Azzurra contra uma seleção sulamericana. A Itália saiu na frente com um gol de Adolfo Baloncieri , aos 9 minutos do primeiro tempo. O Uruguai empatou, aos 17 minutos, com Cea e a virada veio aos 28 minutos com um gol de Campolo. Três minutos depois, a equipe uruguaia marcou seu terceiro gol com Scaroni. A seleção italiana ainda tentou reagir marcando um gol,  aos 15 minutos do segundo tempo, em uma jogada de Levratto, mas não teve forças para uma virada. A equipe treinada por Augusto Rangone, considerado o último romântico do futebol,  conquistou a medalha de bronze. O ouro ficou com o Uruguai.

Itália e Uruguai só se enfrentaram duas vezes em mundiais: em 1970, no México, e em 1990, na Itália. Pela segunda partida da fase de grupos, no dia 6 de junho de 1970, no Estádio Cuauhtemoc, em Puebla, o jogo não saiu do 0 a 0.

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Já no 25 de junho de 1990, no Estádio Olímpico de Roma, pelas oitavas de final, a Itália venceu por 2 a 0, com gols de Schillaci, aos 65 minutos, e de Serena, aos 83 minutos.

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O último confronto entre as duas campeãs foi na Copa das Confederações pela disputa do terceiro lugar, no dia 30 junho de 2013, na Arena Fonte Nova, em Salvador. A partida terminou empatada em 2 a 2, com gols de Astori e Diamante para a Itália e dobradinha de Cavani. Na dispita de pênaltis, a Itália levou a melhor, vencendo por 3 a 2, graças a três defesas de Buffon.

Mesmo que os números não sejam muito favoráveis à seleção italiana, a equipe de Prandelli precisa mostrar serviço e se redimir da participação grotesca na última Copa, quando foi eliminada na primeira fase do torneio.

A Costa Rica, zebra absoluta deste mundial, passou por cima de Inglaterra e Itália e garantiu sua vaga na próxima fase. Itália e Uruguai jogam pela vaga restante. Uma campeã mundial dirá adeus ao mundial brasileiro. Se azul é a cor mais quente, que seja Azzurro.

*Publicado originalmente no Portale Eh Già

Copa 2014 – Itália x Costa Rica: zebra ou passeio?

Esta é uma partida sem nenhuma tradição, apenas dois confrontos, uma vitória para cada lado. A partida mais importante foi vencida pela Costa Rica, na Olimpíada de Los Angeles, em 1984, e a única vitória italiana foi em um amistoso, dez anos depois, um pouco antes do início da Copa de 1994.

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O encontro olímpico, dia 2 de agosto de 1984, foi o último jogo da fase de grupos e a chance de uma despedida honrosa dos costarriquenhos, que vinham de duas derrotas seguidas para os Estados Unidos e o Egito. A seleção italiana era franca favorita, treinada por Enzo Bearzot, que dois anos antes havia vencido o mundial da Espanha. O time italiano renovado seria a base da seleção que disputaria a Copa do Mundo na Itália. Alguns nomes se destacavam, como Franco Baresi, Walter Zenga, Giuseppe ‘Beppe’ Signori, Pietro Vierchowod, Maurizio Iorio e os ‘scudettados’ Franco Tancredi e Sebastiano Nela.

Para a Costa Rica o jogo era só para cumprir tabela e o técnico espanhol Antonio Moyano Reyna, apesar de considerar o empate um ótimo resultado, mandou para o campo um time bastante defensivo, fechando todos espaços e impedindo as jogadas do time italiano. O goleiro Marcos Rojas transformou-se em uma muralha impenetrável e, em uma jogada bem armada, Carlos Toppings roubou uma bola no meio campo e passou para Enrique Rivers, que viu que Guillermo Guardia e Evaristo Coronado estavam livres. Rivers lançou a bola para Guardia, que foi inteceptada por Vierchowod chegando livre aos pés de Rivers. O chute ganhou potência e entrou no canto oposto pegando Zenga de surpresa. 1 a 0 para a Costa Rica.

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O segundo jogo entre as duas seleções, foi um amistoso em New Heaven, nos Estados Unidos, no dia 11 de Junho de 1994, como parte da preparação da seleção italiana para a estréia no mundial americano. Os Azzurri de Arrigo Sacchi venceram a Costa Rica, em uma partida pouco brilhante, com um gol salvador de Beppe Signori aos 25 minutos do segundo tempo.

A Costa Rica é um completo mistério para a equipe de Cesare Prandelli e, antes do começo na Copa, era considerada o underdog do ‘grupo da morte’, que reúne três campeões mundiais. Depois da vitória fácil contra o Uruguai, o time da América Central deve ter tirando o sono de Cesare Prandelli que, além de problemas para escalar a defesa titular, com os contundidos Buffon, Barzagli e Bonucci, ainda tem como adversário o calor de Recife.

O jogo pode ser um passeio para a seleção italiana, mas é sempre bom ficar de olho, porque a zebra andou passeando na primeira rodada do mundial e já mandou para casa a Espanha, última campeã mundial. Façam suas apostas.

*Publicado originalmente no Portale Eh Già