Nem Rangers, nem Celtic. Hibernian é o time mais legal da Escócia

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Se pra você a Escócia é só William Wallace, o monstro do Lago Ness, os homens de kilt, o whisky e as gaitas de fole, você está bem enganado. Melhor que tudo isso é o time local e algumas das melhores bandas britânicas de que se tem notícia. Você certamente ouviu muitas delas sem imaginar que eram de Edimburgo. Não importa a sua idade, em algum momento da vida uma banda escocesa vai cruzar o seu caminho. Quanto à combinação futebol e música, meu conselho é: aprecie sem moderação.

Sábado passado, o Hibernian conquistou um lugar na final da Copa da Escócia, vencendo o Dundee United na disputa de pênaltis por 4 a 2, graças a uma partida ao melhor estilo Fernando Prass do goleiro Conrad Logan. Você que gosta do futebol raçudo, futebol de raiz, sabe que estou falando do time mais bacana da Escócia, não é? Ele é verde. Ele é cult. Ele tem os melhores torcedores. Ele tem os “Famosos 5”, que encantaram o mundo e quase vieram parar no Vasco. E rendeu esta playlist simplesmente sensacional. Precisa dizer mais alguma coisa? Sim!

Hibernia é a palavra romana para Irlanda, então nada melhor que usá-la para batizar um time de malucos irlandeses. Assim, em  1875, nasceu o Hibernian, ligados ao movimento revolucionário irlandês, no bairro de Leith, em Edinburgo, capital escocesa. Resistência é a palavra ordem e nem as andanças pela segundona ou chegar às portas da falência conseguiram abalar o espírito por lá. Quem torce pro Hibs é acima de tudo um forte.

A lista de torcedores é recheada de gente famosa. Irvine Welsh, genial escritor que, entre outras coisas, presenteou a humanidade com Trainspotting é Hibby desde criancinha.  O tenista Andy Murray é outro ilustre defensor das cores do Verdão da Escócia. O ator Dougray Scott, várias vezes cogitado para ser 007, que pode ser visto em Impacto Profundo, Missão Impossível II, Enigma e Desperate Housewives, não esconde sua paixão de ninguém. Fish, lendário vocalista do Marillion, pode ser visto nas arquibancadas do Easter Road.

Temos também toda a maravilhosidade de Shirley Mason, do Garbage. Roddy Frame, vocalista da banda Aztec Camera, garante seus ingressos permanentes para toda e qualquer temporada, seja em que divisão for. Mas o caso de amor mais profundo é o da banda The Proclaimers, que dedicaram não uma, mas três músicas pro Hibernian e ainda colaboraram ativamente na campanha “Hands off Hibs”, que ajudou a tirar o time do buraco em 1990. E não podemos esquecer de Alex Rolim, o cara pra quem esta playlist é dedicada.

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Até na ficção o time mais verde que as pastagens escocesas se destaca. Quando Danny Boyle adaptou Trainspotting para o cinema, deu ao Hibs papel de destaque. Begbie, nosso psicopata favorito, aparece endossando a gloriosa camisa do time numa partida de society. Renton, o personagem principal, além da camisa verde e branca, tem a parede do quarto cheia de posters do clube.

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Um caso curioso é o do Inspetor Rebus, personagem da série de livros do escritor Ian Rankin que, na adaptação para TV, virou a casaca e passou de torcedor do Raith Rovers à fanático pelo Hibernian a ponto de frequentar um pub que vive cheio de Cabbages em dia de jogo. Ironicamente, o ator que interpreta o inspetor, Ken Stott, torce para o arquirrival Hearts.

O Hibernian pode não ser o time mais vitorioso da Escócia, mas tem história. Foi o primeiro time britânico a participar do Mundial de Clubes, no Rio em 1953. Também foi convidado para a primeira Copa Europa, em 1955, mesmo tendo terminado o campeonato escocês em 5º lugar. E não fez feio! Caiu na semifinal contra o Reims, que terminou perdendo pro Real Madrid na final.

Se isso não bastasse, o Hibs tem os melhores atacantes da história do futebol escocês. Gordon Smith, Bobby Johnstone, Lawrie Reilly, Eddie Turnbull e Willie Ormond, conhecidos como “Os Cinco Famosos”, tem lugar de honra no Hall da Fama da Federação Escocesa e, na reforma de 1995, a Curva Norte do estádio Easter Road passou a ser dedicada a eles. Depois do Mundial de Clubes, em 53, o Vasco tentou de todas as maneiras contratar Johnstone e Turnbull e os escoceses gostam de dizer que os ‘Cinco’ foram a inspiração para a geração seguinte do futebol brasileiro.

Eddie Turnbull, não contente em ser um dos maiores jogadores da história do clube, voltou como treinador, em 1971. Com Eddie no comando os “Tornados de Turnbull” chegaram a ser a terceira força do futebol escocês, com dois vice campeonatos, em 1974 e 1975, e o título da Copa da Liga em 1972. Também foram bicampeões da Crybrough Cup em 1972 e 1973, mas a maior façanha para a torcida é a vitória por 7×0 em cima do Hearts, maior rival, na casa do adversário em 1973.

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A playlist de hoje tem o crème de la crème da música escocesa. É provável que algum torcedor do Hearts tenham se infiltrado na lista. Nunca se sabe. Aumenta o volume e aperta o play.

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Mais que azul, o Leicester é a coisa mais quente

A nossa playlist desta semana é para você, caro leitor, que acalenta no fundinho do seu coração o desejo secreto de ver o Coiote pegar o Papa-léguas, o Sargento Garcia prender o Zorro, o rato comer o gato e o Leicester campeão da Premier League. Nós valorizamos gente como você, camarada, que tem o coração cheio de esperança.

Antes desta temporada de Cinderela, ninguém dava a menor bola pro Leicester. Ninguém sabia onde ficava e nem que algumas das melhores invenções do mundo saíram da cachola de filhos da terra. O DNA foi descoberto por Sir Alec Jeffreys na universidade de Leicester. Em 1937, Donald Hings inventou o walkie talkie. É de lá uma das mais bizarras categorias do esporte radical: o extreme ironing, que consiste em passar roupa no alto de um penhasco. Quer saber onde surgiu a bolinha de golfe furadinha? BINGO! William Taylor registrou a patente da dita cuja em 1905.

Se formos falar de história, então… Eis alguns personagens históricos que vieram da simpática cidade: Lady Jane Grey, que foi rainha da Inglaterra por apenas nove dias, Joseph Merrick, o Homem Elefante, e Simon de Montfort, fundador do Parlamento inglês. Até desenterraram uma ‘maldição’ sobre o fantasma de Ricardo III, que só deixou a cidade em paz depois que sua ossada foi sepultada na catedral.

Só por ter presenteado o mundo com Graham Chapman, do Monty Python, eu já acho Leicester um dos melhores lugares da galáxia. E ainda tem Joe Orton, autor de teatro. E Stephen Frears que, entre tantos filmes incríveis, dirigiu um filme sobre Orton, “O Amor Não Tem Sexo”, com o maravilhoso Gary Oldman. E tem Richard Armitage, que todo mundo conhece como Thorin, do Hobbit, ou como Dragão Vermelho da série Hannibal, mas eu prefiro lembrar dele como John Thornton de Norte & Sul, que não deixa nada a desejar a Mr. Darcy, o melhor – e mais amado – personagem masculino da literatura mundial na categoria marido ideal.

Como nem tudo na vida é alegria, é de Leicester a menina Madeleine McCann, que desapareceu na Praia da Luz, no Algarve, em Portugal e até hoje não foi encontrada.

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Vamos ser honestos e dizer que ninguém tava nem aí pro Leicester quando ele estava no borralho esfregando o chão das últimas posições e tentando fugir do rebaixamento. Aí, o simpático Claudio Ranieri fez sua mágica de fada madrinha e transformou o sonso LC na bela do baile, que deixou pra trás beldades ricas, estreladas e poderosas como United, Chelsea, City e Arsenal e encantou o mundo. Faltam apenas algumas semanas para o sonho virar realidade, e o Leicester City já conseguir um feito histórico. Por isso, hoje vamos homenagear  aqueles que nunca deixaram de acreditar.

A playlist desta semana é de músicos da cidade, alguns até torcedores do City. Começando com The Five Dallas Boys, a primeira boy band de que se tem notícia, passando por Engelbert Humperdinck, o cara que estourou o cafonômetro com seu cabelo cheio de laquê, seu bigode de narcotraficante e suas calças boca de sino. O Leicester parece ser o time favorito de baixistas, tecladistas e bateristas. A lista é longa: John Deacon, John Illsley,  Jon Lord, Tony Kaye, Richard Hughes, Frank Benbini e Robert Gotobed. Pra mostrar que somos ecléticos juntamos brega, punk, indie e pop, e não esquecemos o padrinho do Ska, Laurel Aitken – cubano de nascimento mas Fox no coração – nem a DJ Lisa Lashes. Sing-a-long!

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Hark Now Hear the Leicester Sing (Nel Blu Dipinto Di Blu)

 

O disco profético que antecipou a maior vitória da história do Hull City

As vitórias do Hull City contra equipes de Londres foram profetizadas, 22 anos antes, no disco da banda inglesa “The Housemartins”. Montamos um panorama da conturbada época em que o disco foi lançado e contamos um pouco sobre a cena musical da cidade. E falamos até de futebol.

A década de 80 foi desastrosa para o futebol e para a política, mas foi maravilhosa para a música. Os ingleses viram uma mulher Primeira Ministra. Mulher no poder não chega a ser novidade por lá, porque de rainha eles entendem, mas as moradoras de Downing Street costumam ser as esposas e as filhas do Premier.

Margaret Thatcher chegou e resolveu mostrar que era melhor que qualquer homem. Suas medidas de austeridade fizeram a Inglaterra mergulhar na pior crise desde a Revolução Industrial. Maggie bateu de frente com operários e mineiros, provocou o IRA e foi a responsável pela greve de fome que causou a morte de Bobby Sands e mais 9 presos da prisão de Maze, na Irlanda do Norte – e, finalmente, depois das tragédias de Hillborough e Heysel, voltou os olhos para o futebol e decretou que este era o inimigo público número 1. O Liverpool foi banido das competições esportivas por 5 anos e alguns torcedores por toda vida. Como era difícil separar o torcedor comum das maçãs podres do hooliganismo, o melhor a fazer era enfiar todos no mesmo balaio de gatos.

O que fazer quando não se pode ir ao estádio? Você monta uma banda! E assim, pipocaram bandas de diversos estilos por todas as partes do território inglês. Londres não era mais o berço da contracultura, da moda e das tendências musicais. As pessoas queriam ouvir coisas novas, não importava de onde viessem.

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Hull é uma pequena cidade. Se não contribuiu em nada na história inglesa, os nativos gostam de lembrar dos músicos que chegaram ao topo das paradas de sucesso. O maior deles é Mick Ronson – nenhum parentesco com os irmãos Mark e Samantha Ronson – líder dos Spiders from Mars de David Bowie e o gênio invisível por trás de discos como “The Man Who Sold the World”, “Hunky Dory”, “Ziggy Stardust”, “Aladdin Sane” e “Pin Ups”. Acha pouco? Ele ainda fez parte do Mott the Hoople, tocou com Lou Reed, Bob Dylan, Van Morrison e produziu o CD mais pesado de Morrissey. Sabe aquele pianinho que você adora em “Perfect Day” de Lou Reed? É dele.

Ronson abriu as portas e os músicos de Hull aproveitaram a oportunidade. E assim começou a história dos “4 de Hull” a chegar no Top 10 inglês. A banda Red Guitars durou apenas 4 anos, de 1982 a 1986, mas emplacou dois hits em primeiro lugar: “Marimba Jive” e “Be With Me”. Em 1984, o Everything But the Girl – ou simplesmente EBTG – bateu na trave com o primeiro disco, “Eden”, alcançando o 14º lugar na parada de discos. Um ano depois, chegaram ao 10º lugar com o disco “Love Not Money”. Em 1996 ficaram famosos mundialmente com a música “Missing”. O terceiro nome é o Fine Young Cannibals. Duas músicas do seu disco de estreia, de mesmo nome, lançado em 1985,  chegaram em 8º lugar. Uma delas é a versão super swingada de “Suspicious Minds” de Elvis Presley.

Mas o que tudo isso tem a ver com futebol? Péra, já explico.

O Hull City é um time de pouca ou nenhuma tradição, já que o esporte mais importante na região é o rugby. Os Tigres subiram duas vezes para a primeira divisão, mas não ficaram muito tempo por lá. Não era por seus feitos futebolísticos que o time aparecia no noticiário. Em 1984, o presidente do clube anunciou que o Hull City seria o primeiro time de futebol a jogar na lua. Você não leu errado, é isso mesmo. Don Robinson levou os jogadores para a base da NASA em Cabo Canaveral, mas não encontrou nenhum adversário que topasse a parada.

Enquanto o time fazia sua excursão americana e esperava um adversário para a partida em solo lunar, The Housemartins conseguiam o tão sonhado contrato com a gravadora independente Go! Discs Records. Formada em 1983, e autodenominada a “quarta melhor banda de Hull”, logo de cara emplacaram o single “Happy Hour” em terceiro lugar na parada.

Era hora de pensar no disco, a começar pelo nome. Paul Heaton, Stan Cullimore, Norman Cook – que depois do fim da banda viraria o famoso DJ Fatboy Slim – e Dave Hemingway eram malucos por futebol e resolveram vingar o orgulho ferido dos torcedores do Hull City no nome de seu primeiro disco. E assim nascia a maior profecia da história do futebol inglês.

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Corta para o dia 19 de outubro de 2008. O recém promovido Hull City recebe o West Ham United no KC Stadium pela Premier League. Nos meses anteriores, o time já tinha vencido  Fulham, Tottenham e Arsenal e uma vitória sobre o West Ham garantiria um inédito terceiro lugar na tabela. Aos 6 minutos do segundo tempo, o escanteio cobrado por Andy Dawson encontra a cabeça de Michael Turner, que marca o único gol do Hull na partida.

Adivinhe as manchetes dos jornais no dia seguinte. Duas rodadas depois, o City perdeu para o Chelsea por 3 a 0, mas quem se importa? A temporada 2008/09 foi um verdadeiro sonho para os torcedores dos Tigers, que, além de ótima campanha na Premier, chegaram às quartas de final da FA Cup.  

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Mick Ronson morreu de câncer em 1993, mas deixou um incrível legado. Aqui vai uma seleção do melhor de Hull, incluindo as músicas produzidas por ele. Escolhi um monte de músicas do The Housemartins porque eles foram os responsáveis por este post. Se você não se apaixonar pela voz de Tracey Thorn ou se não se pegar dançando com Fine Young Cannibals, eu devolvo seu dinheiro.

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Musica para craque, a playlist definitiva

Segunda edição da nossa playlist reúne apenas hits que homenageiam craques do futebol mundial. Valem todos os estilos possíveis, desde que tragam o nome do jogador no título da faixa. Separe seus fones de ouvido.

Um grande jogador é imortalizado por seus feitos em campo. Um ídolo ganha música. Alguns dos maiores jogadores de todos os tempos foram eternizados em verso, prosa e ritmo. Nossa playlist super especial desta semana tem de rap a música brega. Mas isso importa? Na verdade, não.

Como futebol não conhece fronteiras e é o mais democráticos dos esportes, temos a banda australiana Vaudeville Smash tecendo loas a Zinedine Zidane, os franceses do Mano Negra cantando Diego Maradona, o catalão Joan Manuel Serrat homenageando László Kubala, a música de uma banda de Palma para Samuel Eto’o e muito mais. De bônus vai uma preciosidade: a música para Sven-Göran Eriksson.

Na série americana Breaking Bad, Walter White, ao se transformar em seu alter ego maléfico Heisenberg, cunhou a frase “Say my name”. Aqui, Zidane, Ibra, Falcão e cia, dizem “Sing my name”. Resista se for capaz.

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O orgulho de Manchester: entre o futebol e a música

Todo Futebol estreia editoria especialmente planejada para os que apreciam futebol e música. A cada post, faremos uma playlist temática. Nada melhor do que começar com o grande clássico de Manchester entre United e City. Coloque seus fones de ouvido.

Manchester, England, England, across the Atlantic Sea…” grita o refrão da canção de Hair – a peça, o filme, escolha o seu -, mas Manchester não é só isso. Esqueça Londres, esqueça Liverpool, Manchester é a cidade mais famosa quando o assunto é futebol. E, de quebra, produziu algumas das melhores bandas dos últimos 35 anos.

Berço da Revolução Industrial, ao que parece a feiura cinzenta e gélida é propícia para o surgimento de novas ideias tanto sociais quanto culturais. Foi lá, por exemplo, que surgiu o movimento sufragista feminino e onde aconteceu o encontro de Friedrich Engels e Karl Marx. Manchester só não é democrática quando o assunto é futebol. Por lá, se você não é United, é City e fim de papo.

A rivalidade não está restrita aos confins de Old Trafford ou do Etihad Stadium. Algumas bandas da cidade competiram, discutiram, se odiaram por décadas. Talvez menos do que os irmãos Gallagher odeiam um ao outro mas na música, como no futebol, as paixão são insanas e inexplicáveis.

Para resolver o problema, fizemos duas playlists bastante democráticas de músicos que são fanáticos torcedores tanto dos Reds quanto dos Blues. Na nossa arquibancada punks, pops, góticos, depressivos e indies convivem pacificamente. Divirtam-se!

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MANCHESTER CITY

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Léo Gomes e a poesia esquecida da bola

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Pier Paolo Pasolini dizia: “O futebol que expressa mais gols é o futebol mais poético. Também o drible é por si poético (ainda que não se compare com o gol). De fato, o sonho de todo jogador (compartilhado por todo espectador) é arrancar do centro do campo, driblar a todos e marcar o gol. Se, dentro dos limites, se pode imaginar uma coisa sublime, é precisamente esta.”

A poesia do futebol, para um menino, começa invariavelmente nas peladas de rua. É ali que ele se destaca, chutando uma pedra, driblando um portão, tentando uma jogada de efeito. E, sem perceber, ele ensaia um soneto, faz uma rima e arrisca um refrão.

Foi assim para Henrique Léo Chirivino Gomes, nascido em 30 de outubro de 1933,  cuja habilidade levou ao juvenil do modesto Sá Viana de Uruguaiana.

Zagueiro que só bate na bola

Léo era raçudo, da longa e notória linhagem de zagueiros gaúchos. Considerado o terror dos ponta direitas, levava tão à sério seu papel de não deixar o adversário avançar na sua porção de campo, que ganhou dois apelidos bastante depreciativos: “Bandido” e “Cuspida”. Para um jovem jogador este tipo de ‘atenção’ da mídia, às vezes pode custar caro. O rapaz era viril, marcava o adversário em cima e entrava duro quando não tinha outro jeito, mas estava longe de ser violento e desleal. Pra cima dele nenhum atacante podia se vangloriar de fazer gol. Era uma verdadeira muralha.

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A história da cuspida é só mais uma daquelas lendas do futebol que ganham corpo e importância cada vez que são contadas. Quem conta um conto… Reza a lenda que ele cuspiu em um atacante para desarmá-lo. Ninguém sabe se é verdade, mas o apelido pegou. “Cuspida” é famoso até hoje em Uruguaiana.

1954, o ano que mudou o futebol gaúcho

Em janeiro de 1954, enquanto São Paulo recebia atores e atrizes hollywoodianos para a comemoração do IV Centenário, alguma coisa acontecia em Porto Alegre. Dirigentes gaúchos se reuniam para aprovar a nova fórmula do campeonato de futebol. Nada mais de chave vermelha contra azul, agora todos os times, inclusive os do interior do estado, poderiam participar. Nascia o Gauchão.

Renner e o primeiro título

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Léo Gomes chegou ao Renner para ficar na reserva de Ivo Andrade, o capitão do time e irmão mais velho de Ênio (que anos mais tarde ficaria famoso como treinador e se sagraria campeão brasileiro por Inter, Grêmio e Coritiba). Gomes não era mais o zagueirão dos tempos do Sá Viana e agora fazia a função de volante.

O técnico Selviro Rodrigues, professor de Educação Física do prestigioso Instituto Porto Alegrense (IPA), foi um dos precursores da preparação atlética para os jogadores de futebol, o que explica o vigor e a velocidade do time do Renner. Mas, acima de tudo, o professor Selviro conseguiu transformar o time em um grupo de amigos, cuja camaradagem ultrapassou o campo de jogo e seguiu por toda vida.

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Durante o campeonato, o time se concentrava no IPA sob o olhar rígido do treinador. Os rapazes eram unidos e sempre que podiam organizavam cantorias, jogos de cartas e campeonatos de bilhar. Nas poucas folgas, o grupo ia ao cinema. Com exceção de Léo, que preferia atravessar a rua e passar o tempo livre fazendo a corte à Flavia Terezinha, namorada com quem mais tarde viria a casar.

No tempo em que as vitórias valiam 2 pontos, o Renner foi campeão citadino invicto, com 15 vitórias e 3 empates. Foi também o ataque mais positivo marcando 59 e sofrendo apenas 16 gols. Foi o bicho papão de 1954, vencendo também o campeonato gaúcho e acabando com a longa hegemonia de Grêmio e Internacional.

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Grêmio, Cruzeiro e o fim prematuro da carreira

Em 1957, Léo se transferiu para o Grêmio, onde jogou até 1962. O Grêmio desse período colecionou títulos, aumentando ainda mais a lista de conquistas de Gomes como jogador. No Grêmio de Oswaldo “Foguinho” Rolla (craque dos anos 30 time que se tornou treinador), foi companheiro de equipe de Aírton Pavilhão, Gessy e Juarez, o Tanque, primeiro negro a jogar pela equipe gaúcha.  Já neste período começou a sofrer com contusões.

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Passou do Grêmio para o Cruzeiro de Porto Alegre, que na época era a terceira força do Estado. Os clássicos Gre-Cruz ou Inter-Cruz agitavam as coisas na cidade. Nenhum time tinha vida mole ao enfrentar o Leão da Montanha em seu estádio. Léo não estava em sua melhor forma e, apesar de ter apenas 30 anos, já era considerado velho para o futebol. Na época as carreiras duravam pouco e os salários eram cada vez menos atraentes, ainda mais para um homem casado e com filhos pequenos.

O ponto final foi a ruptura do menisco. Naquele tempo, a solução para o problema era extirpar toda a cartilagem do joelho, o que tornava quase impossível voltar a jogar. Além de causar dores insuportáveis.

A vida nos campos acabou, mas Léo nunca esteve distante do futebol. Organizou times infantis e foi um dos fundadores do departamento de ex-atletas do Grêmio. Por diversão, os ‘Masters’ se apresentavam pelo interior jogando contra times locais.  Em uma dessas viagens, formou uma inusitada dupla de zaga com o filho: Cuspida e Cuspidinha. Foi a primeira de muitas parcerias entre os dois.

A vida depois do futebol

Começou a vida de ‘homem comum’. Os títulos e os feitos heroicos dos gramados tinham pouca importância, mas a responsabilidade e a disciplina serviram perfeitamente para a nova carreira que escolheu. Começou a trabalhar na Caixa Econômica Federal e logo assumiu o cargo de chefe de seção.  Progrediu rapidamente ao posto de gerente, transferindo-se para Giruá, pequena cidade muito longe de Porto Alegre. Nenhum desafio era grande demais para Léo e seu sucesso na agência não passou despercebido. Foi novamente promovido e assumiu mesmo cargo em uma agência maior, em Soledade.

Descobriu os pequenos prazeres da vida como ensinar o filho a nadar nas águas do rio Guaíba. Na vida com Flávia, seu único e grande amor, e os filhos Luiz Henrique e Márcia, nunca faltava música, com os saraus semanais. O guri, por sinal, queria ser jogador e chegou a treinar na escolinha do Grêmio. Mas Léo viu logo que aquela vida não era pra ele. Para afastá-lo da bola, arrumou-lhe um professor de violão. A contrariedade do menino durou alguns minutos e na aula seguinte ele já estava completamente envolvido. A velha visão de jogo, que previa jogadas e passes, serviu também para a vida fora do campo. Ao mudar a trajetória de Hique, Léo marcou seu maior gol. Do resto o destino se encarregou.

Herdeiros

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Hique Gomez, diretor, multi-instrumentista, compositor e ator, passou a infância vendo o pai jogar e sonhando com um futuro na zaga do Grêmio. No coração de Hique, as lembranças de música e futebol se misturam. Dos saraus em casa com La Bamba cantada a plenos pulmões, da salada de influências que misturava Alvarenga e Ranchinho e Stevie Wonder, Vicente Celestino e Martinho da Vila. Léo encorajava as aventuras musicais do filho e nunca mediu esforços para incentivar o talento do garoto, chegando a vender um terreno para comprar um piano. Essas e muitas outras histórias fazem parte da autobiografia “Hique Gomez, para Além da Sbórnia“, lançada pela editora Besouro Box, em 2019.

Um talento nato, aos 15 anos, Hique já tocava em bandas de baile. Em 1984, começou uma das mais respeitadas parcerias da música brasileira com Nico Nicolaiewsky, o Tangos & Tragédias. Depois da morte de Nico, em 2014, deu continuidade ao projeto paralelo Tãn Tãngo, iniciado em 2011, e atualmente viaja o Brasil com o show “A Sbørnia Køntr’Atracka.

Infelizmente, Léo não viu nascer o Tangos & Tragédias, mas ficaria encantado com o violinista Kraunus Sang, o Maestro Plestkaya e toda a troupe, que podem ser vistos na animação “Até que a Sbørnia nos separe” e na websérie Sbørnia em Revista

“Zagueiro do Grêmio” foi composta por Hique para homenagear não só o pai, mas todos os corajosos que escolhem defender essa zona do campo.

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Clara Averbuck é escritora, com 20 anos de carreira, 9 livros lançados, no Brasil e no exterior, alguns deles adaptados para cinema e teatro. Além disso, é comunicadora, colunista, professora de escrita criativa, pós-graduanda em Direitos das Mulheres e pole dancer. Entende de tudo, mas pra futebol não dá muita bola. O que não a impediu de escrever, em 2006, uma crônica para a Folha de São Paulo, contando do orgulho de ser neta do “Cuspida”.

Durante a pandemia, Clara resolveu tirar da gaveta antigos projetos e criou o “Averbuck is on the table“, no APOIA-se; os podcast “Não fui eu, foi meu eu lírico“, sobre literatura, gênero e subjetividade do alter ego na escrita, e “Nu Frontal” em parceria com a escritora e ilustradora Bruna Maia; uma coleção de camisetas e outras peças em colaboração com a loja “El Cabriton” e o selo independente “O Cachorrinho Riu”, por onde serão relançados os livros dela que estão fora de catálogo. Parece pouco? Pode apostar que vem muito mais por aí!

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Rigoroso, justo e parceiro, é assim que Hique Gomez define seu pai. Gremista, o futebol de hoje não o encanta mais. Para quem aprendeu a andar sobre o prado verde do velho Olímpico e viu um esporte jogado pelo grupo, o futebol individualista das arenas moderníssimas e dos craques milionários, teleguiados por ambiciosos empresários, parece coisa de outro mundo: “Fui num encontro do Renner e falei isso… todos velhinhos, alguns doentes, e eu falei pra eles, que aprendi a tratar os meus amigos como meu pai tratava os amigos dele. E, no caso, foi um exemplo muito positivo porque eram vencedores”.

Léo Gomes morreu em 1983, aos 50 anos, vítima de câncer no pulmão. Viveu duas existências, uma dentro e outra fora de campo e em ambas foi vencedor. Da sua inspirada prosa e poesia nasceram um músico e uma escritora. Nada mal para o guri que se divertia jogando bola na rua.

Outro ano, outro Sanremo

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Sanremo é cafona, é caótico, é injusto, mas não consigo deixar de assistir. Porque Sanremo é exatamente aquilo que promete: popular. As regras podem mudar todo ano, mas uma coisa continua sempre igual, é o público que decide quem ganha.

Este ano rolou um ‘bis’ na apresentação, com Fabio Fazio e Luciana Littizzetto, e na regra do ano passado de cada cantor apresentar duas músicas e uma delas é escolhida pelo publico, através do telefone.

A Itália é o Brasil, com mais idade, drama e manjericão, então, não podia faltar um furdúncio. O pobre Fazio foi interrompido no seu monólogo inicial por dois operários que resolveram tentar  suicídio ameaçando se jogar do alto do teatro Ariston. No começo ninguém sabia se era verdade ou brincadeira – de péssimo gosto – mas a realidade pode ser mais bizarra que a ficção e a mente cafeinada de qualquer roteirista. Momentos de emoção, famosos se retirando, porque vai que os caras resolvem mesmo pular. Tudo isso ao vivo, sem break comercial, nego gritando como se estivesse num cortiço, as pessoas aplaudindo, dez minutos dignos de um filme de Fellini.

Passando ao que interessa, Sanremo começou no dia 18 de Fevereiro, aniversário de Fabrizio De André, e para não deixar a data passar em branco teve Luciano Ligabue cantando “Crêuza de mä”, em genovês, acompanhado de Mauro Pagani, autor da música, e as presenças da viúva Dori Ghezzi e do filho Cristiano. Ligabue casou, mudou, deu um tapa no visual e até perdeu aquele ar de quem levanta uma parede em um dia. Fez o que sabe fazer melhor, cantou lindamente.

Aí chega o momento de Lucianina Littizzetto. Quebrei a cabeça pra achar uma correlativa brazuca pra ela e não achei. A coisa que chega mais perto é Dercy Gonçalves, mas muitos graus abaixo. La Littizzetto fez sua entrada, no melhor estilo Crazy Horse, e seu monólogo de abertura foi tão cheio de duplo sentido que o botox das senhoras respeitáveis da platéia venceu tentando disfarçar o constrangimento.

A primeira concorrente é Arisa, com sua cara de Piu Piu e sua voz de periquito usando o batom mais equivocado da história da maquiagem, que faria Max Factor girar na cova feito frango de padaria. Canta duas músicas, a primeira, bem legal, é claaaaaaro que não foi escolhida. Da segunda falaremos mais pra frente. Ou não.

Apresentado como o ‘pai do pop italiano’ (eu faria um DNA urgente pra verificar a paternidade), Frankie Hi-Nrg Mc. A única coisa ‘High Energy’ do fulano é a quantidade de medicamentos para pressão alta que ele toma todas as manhãs. Pouparei vocês da minha sincera opinião sobre as duas tranqueiras que este senhor cantou.

Pausa na parte musical e hora da convidada especial, Laetitia Casta. Lindá, modelá, francesá, La Castá assassinou com três tiros a queima-roupa ‘Meraviglioso’ de Domenico Modugno. De boca fechada Laetitia é Maria Callas. Ela tentou melhorar as coisas dançando de maiô, mas o estrago já estava feito.

Sanremo gosta de arrancar umas lágrimas, então, não faltaram homenagens. Parece que o Ceifeiro teve bastante trabalho nos últimos meses e promoveu uma verdadeira chacina no mundo musical italiano. Enzo Jannacci, o maestro Claudio Abbado, Freak Antoni e Francesco Di Giacomo foram lembrados com vídeos e músicas.

Segue o enterro – tenham em mente que são 14 concorrentes – Antonella Ruggiero, fundadora do grupo Matia Bazar, é uma daquelas cantoras que flerta com a música lírica. Pra meu desespero. Não sei se foram as horas infinitas dos Três Tenores e aqueles shows para os pobres de algum canto do mundo com Pavarotti (que Deus o tenha em bom lugar com direito a buffet variado), ou se foram os musicais da Broadway de Andrew Lloyd Webber que me causaram uma gastura toda vez que alguém manda um vibrato.

Raphael Gualazzi conquistou meu coração de pedra, em 2012, com “Follia d’Amore”, e meu amor resistiu bravamente às duas músicas meia-boca que ele cantou no ano passado. Este ano foi a pá de cal, porque Raphael resolveu se apresentar com a dupla de música eletrônica dos mascarados, The Bloody Beetroots. Se em dois anos Raphael sofreu um processo de desembarangamento, ficou chato bagarai.

Todas as revistas de fofoca dizendo que Raffaella Carrà tava às portas da morte e ela aparece cantando e dançando com salto 15 aos 70 anos. Se ela tá mal, eu tô tecnicamente morta.

É a vez de Cristiano De André. Apesar de ser a fuça do pai e não cantar mal, o pobre deve ter passado sempre com a água pelo peito, como todo ‘filho de’. Ele é a Maria Rita, versão masculina e italiana, que só consegue enganar quem nunca ouviu ou esqueceu como era o original.

Primeiro grupo a participar é Perturbazione e faz a gente sentir saudade do Modà. Volta Modà!

Giusy Ferreri não é uma má menina, o problema é a voz bizarra. Ela até engana por uns 2 minutos, aí começa a gritaria. Chamar de gralha ofende toda a categoria.

Francesco Renga… Quando não se tem nada de bom pra dizer, a gente repara que o cara tá usando toda a prata do Universo nos anéis e nas pulseiras.

A primeira coisa que pensei quando vi Giuliano Palma é que ele é a fuça de Arrigo Sacchi. E a música não é ruim, mas é daquelas que grudam na cabeça e nem lobotomia tira.

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Noemi! Minha favorita. Mesmo que ela tenha acabado com toda tintura vermelha da Itália e agora use uma franja de mongPIN UP, Lilian, PIN UP! Mesmo com um vestido que traz como detalhe um troço que lembra aquele aparelho arreio de cavalo. Mesmo que eu nem tenha conseguido prestar atenção nas músicas pra escolher uma. Canta qualquer coisa aí, Noemi, porque sua voz é foda.

Renzo Rubino é o Gualazzi de 2012. O estreante na categoria principal se apresentou ao piano e mandou uma musiquinha tão legal que, sem perceber, você fica cantarolando o dia inteiro.

Ron. Voz de velho, música de velho, mania de velho de cantar mezzo italiano mezzo inglês, um toupet de castor morto na cabeça… É velho, véi!

Riccardo Sinigallia é metade da dupla Tiromansino. Pelo visto, a parte dele é a Tiro, porque foi o que ele deu no pé inscrevendo em Sanremo uma música que já tinha tocado. Qual parte do inédito você não entendeu Riccardo? Foi desclassificado.

Eu bem tentei prestar atenção na música de Francesco Sarcina, mas fui hipnotizada pelos brincos dele. É tudo que posso dizer.

Quem escolheu as atrações internacionais deste ano está sob efeito de drogas pesadas. O primeiro foi Cat Stevens ou Yusuf Islam ou Yusuf ou Steven Demetre Georgiou, seja lá qual o nome que ele estiver usando no momento, na hora que ele canta “Father & Son” você espera a entrada de Suplicy e do Supla. O segundo foi Rufus Wainwright, que passou o tempo todo com cara de “Onde eu fui amarrar meu jegue?”. O terceiro foi Damien Rice, que só tem duas músicas. Adivinhem o que ele cantou? Paolo Nutini, modernoso e, provavelmente, o único oriundi que não fala nenhuma palavra de italiano.

Minha falta de saco pra Sanremo já estava preocupante, então, resolvi consultar as bases pra saber se gostamos ou não de Claudio Baglioni. Gostamos! E ele canta tudo que nos faz gostar dele, um medley dos bons, ele ao piano. E só em pensar em ouvir o resto dos péla saco que ainda faltam cantar, dá voltade de pedir pra ele ficar cantando até amanhã.

Quando eu já estou acostumando com as músicas que o público escolheu, lembro que ainda tem a categoria “Giovani Proposte”. Este ano a coisa estava particularmente ruim, mas sempre dá pra salvar um e o nome dele é Zibba.

O quarto dia foi o dia das covers e dos encontros, no mínimo, inusitados, que começou com o mala ganhador do ano passado, Marco Mengoni, estragando “Io che amo solo te” de Sergio Endrigo. Teve Arisa cantando “Cuccurucucu”, de Franco Battiato, com a banda dinamarquesa Whomadewho, que se alguém conhecer ganha um doce. Cristiano De André cantando “Verranno a chiederti del nostro amore” do pai, Fabrizio. Noemi ao piano cantando “La costruzione di un amore”, que Ivano Fossati escreveu para Mia Martini. O chatissimo Francesco Renga cantou com Kekko, do Modà, “Un giorno credi” de Edoardo Bennato. Giuliano Palma cantando “I say i’ sto cca” de Pino Daniele. Ron mandou “Cara” de Dalla. Frankie Hi-Nrg e Fiorella Mannoia competindo pra ver quem cantava pior “Boogie” de Paolo Conte. Renzo Rubino com Simona Molinari cantaram “Non Arrossire” de Giorgio Gaber. E Perturbazione cantou “La donna cannone” de Francesco De Gregori com a participação de Violante Placido.  Antonella Ruggiero acompanhada pelo DigiEnsamble Berlin cantou “Una Miniera” dos New Trolls. Vencedor no quesito parceria mais bizarra, Raphael Gualazzi convidou Tommy Lee, do Motley Crüe, para acompanhar na bateria “Nel blu dipinto di blu”, mais conhecida como “Volare ô ô”, de Domenico Modugno. Eu esperava que, pelo menos, Tommy Lee entrasse pelado pra coisa fazer algum sentido, mas não rolou. Empatados em segundo lugar Giusy Ferreri, Alessandro Haber e Alessio Boni, bem louco de Velho do Rio, cantando “Il mare d’inverno” de Enrico Ruggeri e Francesco Sarcina com Riccardo Scamarcio, mais conhecido como marido de Valeria Golino, na bateria pra “Diavolo in me” de Zucchero. E ainda teve uma colher de chá para o desclassificado Riccardo Sinigallia cantar “Ho visto anche degli zingari felici” de Claudio Lolli com Paola Turci e Marina Rei.

Quarta serata del 64esimo Festival della canzone italiana

Todo este suplício só foi tolerado para ver Gino Paoli, acompanhado de Danilo Rea, um dos melhores pianistas de Jazz da atualidade. Teve Tenco. Teve Bindi. E teve Paoli. Quinze minutos de pura e sublime genialidade.

No fim, ganhou Arisa com sua voz de periquito. E o que aprendemos nesses 5 dias de festival? La Littizzetto continua sendo a melhor coisa da TV italiana, Noemi é disparado a melhor jovem cantora, Gino Paoli é Deus e o CD de Zibba é a única coisa que tenho escutado nos últimos dias. No ano que vem tem mais, porque eu adoro odiar Sanremo.

*Publicado originalmente no Portale Eh Già