Guia musical da Euro: Espanha

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Don Quixote. Siesta. Sangria. Pìcasso. Paella. Almodóvar. Tapas. Flamenco. Onde mais se pode comer Gazpacho no McDonald’s? Precisaríamos de anos para contar a história da música espanhola. Como ninguém tem tempo pra isso, só vamos dar umas pinceladas disso e daquilo. ¿Estás listo? ¡Vale!

Breve história sobre a Espanha na Euro

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La Furia ganhou sua primeira Euro em 1964 e levou 44 anos para vencer a segunda. Foi só pegar o jeito que enfileirou logo duas seguidas, em 2008 e 20012. A Espanha, junto com a Alemanha, é a maior vencedora do torneio com 3 títulos.

A atual campeã não é mais a mesma. O time de 2016 é o da transição. Acabou o tiki-taka que, além do bi na Euro, faturou uma Copa do Mundo. Acabou a geração de ouro, a melhor de toda a história do futebol no país. As apresentações nas eliminatórias da Copa da Rússia não foram nada pra escrever pra casa contando. Na verdade, foram um tédio só. Mas em um time que tem a magia de Andrés Iniesta sempre inspira respeito.

Fique de olho

Alvaro Morata

Vicente Del Bosque e a imprensa espanhola apostam todas as fichas em Álvaro Morata. O jogador, apesar de ter começado a maioria das partidas dessa temporada pela Juventus no banco, se mostrou decisivo nos momentos que a equipe mais precisava. Na verdade, Morata foi a arma secreta de Massimiliano Allegri e marcou gols na final da Champions League contra o Barcelona e na final da Copa Itália contra o Milan. Fez tanto sucesso na Juve que o Real quis de volta.

Em um dia bom, Morata é um inteligente, com boa visão de jogo e grande habilidade. Em um dia de Morata, perde muitos gols. Todo mundo torce para que ele esteja inspirado. Anote aí: ele é o camisa 7.

Música, maestro!

Pra começo de conversa precisamos dizer que a música da Espanha foi influenciada por todos que por lá passaram. Ciganos, gregos, mouros, celtas, romanos, visigodos, judeus, pense em um povo nômade ou conquistador e você vai achar um dedinho na música ibérica.

Os primeiros registros musicais datam do século VI, nos manuscritos de Isidoro de Sevilha, estudioso e mais tarde nomeado arcebispo. Com a conversão dos visigodos ao catolicismo durante o III Concilio de Toledo, em 589 D.C., a liturgia visigótica-moçárabe foi incorporada à celebração. Bem aceito por suas similaridades aos ritos ambrosiano e galicano, o rito moçarábico prevaleceu ao romano. Apenas depois da reconquista cristã é que foi substituído pelo rito praticado em Roma. Hoje pouco conhecidos, os cantos do rito moçarábico não foram transcritos para partituras e os registros que sobreviveram só dão uma vaga ideia da sua beleza.

O maior exemplar da música sacra da Idade Média são as Cantigas de Santa Maria. Escritos em galego medieval, os 427 poemas são atribuídos a Alfonso X, o sábio. Embora muitos duvidem que ele seja o autor, todos concordam com a sua participação na composição de muitas delas. Durante a Renascença surgiram os ‘cancioneros’. O Cancionero de Upsala, por exemplo, é um dos poucos remanescentes da música espanhola da época.

Por dois séculos, de XVII a XIX, sob a influência do modelo italiano, a música clássica espanhola praticamente desapareceu. Os compositores italianos Domenico Scarlatti, Luigi Boccherini e Gaetano Brunetti tornaram-se residentes da corte madrilenha e os músicos locais tinham tão pouco incentivo que foram para Itália e França em busca de estudo e oportunidades. O nome mais importante do fim do classicismo e do início do romantismo é Juan Crisóstomo de Arriaga. Também desta época são as composições de Tomás Luis de Victoria e de Antonio Soler.

No início do século XVII, surgiu a zarzuela, forma popular de ópera, que conquistou grande fama rapidamente. Foram figuras essenciais para o desenvolvimeto do gênero os compositores Francisco Asenjo Barbieri, Ruperto Chapí, Federico Chueca e Tomás Bretón.

Sobre a música folclórica da Espanha é possível escrever milhares de páginas. A escola flamenca de música é a mais famosa do país, que evoluiu através do tempo incorporando elementos de jazz e de rock. Todas as regiões tem sua música típica e instrumentos criados para tocá-la. A Andaluzia tem sua gaita rociera, Aragón tem a Jota. tocada com castanholas, guitarra, pandeireta e, às vezes, flautas. O instrumento típico do noroeste espanhol é a gaita. No país Basco, a música mais popular é a trikitixa, tocada com acordeon e pandeireta. A Catalunha tem a dança dos bastões e a dança cigana. Estremadura, região rural com grande influência portuguesa, tem grande repertório para flauta tamborileira e um instrumento muito parecido com a nossa cuíca, chamado zambomba.

Quando se fala de flamenco, nomes como os dos falecidos Camarón de la Isla e Enrique Morente e o da banda Ketama não podem ficar de fora de nenhuma lista que se preze. Nem Carmen Linares, grande dama do canto flamenco. Da turma de filho e neto de peixe, temos José Mercé e Tomatito, o último ganhador do Grammy de melhor álbum flamenco de 2013. E Marina Heredia, filha do cantor Jaime Heredia “El Parrón”, que desponta como um dos grances nomes da nova geração de cantoras do gênero.

Durante a década de 40, surgiu um movimento para resgatar a música espanhola, que desapareceu durante a Guerra Civil. O Conservatório Musical de Madri foi reformado e foi criada a Orquestra Nacional. Nesta mesma época foi fundado o Instituto Español de Musicología. Um dos grandes nomes surgidos nessa época é Joaquín Rodrigo Vidre, virtuoso pianista e compositor, cego desde criança. Vidre é considerado um dos maiores compositores para guitarra do século XX e seu Concerto de Aranjuez é uma obra prima da música ibérica.

Ao contrário dos outros países, o rock espanhol foi influencido pela música de França e Itália. Johnny Hallyday era o grande nome do rock francês e Adriano Celentano e Renato Carosone estavam no top das paradas italianas. A influência mediterrânea afastou a música espanhola dos Estados Unidos de Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry e Little Richard. A música produzida na Espanha, entre os anos de 1956 a 1960, era mais romântica que rock ‘n roll.

Fenômeno da música pop espanhola, o cantor Raphael, nascido Miguel Rafael Martos Sánchez, faz sucesso há 5 décadas. Em 1980, por ter vendido mais de 50 milhões de cópias na sua carreira, o selo Hispavox criou o “disco de urânio” especialmente para ele.

Os espanhós bem que tentaram mas não conseguiram resistir à revolução provocada pelos Beatles. Pipocaram bandas como Los Estudiantes, Los Rocking Boys, Los Pájaros Locos, Los Catch As Catch Can e Los Pantalones Azules.

Los Canarios, o primeiro grupo de rock progressivo espanhol, depois de um tour nos Estados Unidos, em 1966, voltaram cheios das influências r&b e deixaram de lado o som hippies inspirado em Jefferson Airplane e Grateful Dead. Seus herdeiros são Cursed Angel, Dragonfly, Opera Magna, Sypherion e TYR. Só para não deixar passar batido, anote alguns nomes para quem curte doom, death metal, trash e power metal: Nahemah, The Moebius Curve,  Saurom e Soziedad Alkoholika.

Como todo mundo sabe, os bascos são bons de briga e o punk caiu como uma luva por lá. Em 1979, surgiu Me Cago en Dios (MCD), até hoje em atividade. Na mesma época apareceu o La Polla, considerada uma das maiores bandas de língua espanhola. O terceiro da lista é Eskorbuto, o mais independente e politizado dos três, que teve problemas com a polícia por defender abertamente o ETA. A cena punk é recheada de bandas, que além de divertidos nomes, fazem um som bastante razoável: Cerebros Exprimidos, Juanita y los Feos, Ni Por Favor Ni Ostias e Segismundo Toxicómano.

Nos anos 80, o movimento cultural “La Movida Madrileña” abriu as portas para outros gêneros musicais. Surgem os pioneiros da música eletrônica, do ska e do hip-hop. Nenhum nome no hip hop é mais conhecido que o de Mala Rodríguez. María Rodríguez Garrido ficou conhecida mundialmente por suas músicas com raízes flamencas e letras que falam de feminismo e de problemas sociais. Em 1989, ela tinha apenas 10 anos quando foi lançado o primeiro disco de rap na Espanha, a coletânea  “Madrid Hip Hop”. Hoje o gênero é tão sedimentado no cenário musical do país que muitos artistas nem precisam mais de gravadoras para lançar e divulgar seus trabalhos.

Estranhamente, a visibilidade à música espanhola veio através dos cantores líricos. A pioneira foi Montserrat Caballé quando participou do disco solo de Freddie Mercury, Barcelona, em 1988.  Freddie, que sempre sonhou em cantar com Caballé, pôde realizar seu desejo antes de morrer em 1991. A música foi escolhida como tema das Olimpíadas, de 92. Os tenores Placido Domingo e José Carrera, junto com o italiano Luciano Pavarotti, viraram uma febre mundial ao se apresentarem no encerramento da Copa do Mundo de 1990, na Itália. Os três tenores ficaram em atividade até 2004.

Já que estamos falando de futebol e música, não podemos deixar de fora Julio Iglesias, ex-goleiro juvenil do Real Madrid de 1958 a 1962. Infelizmente sua carreira futebolística foi interrompida devido a um acidente de carro, em 1963. Por causa do acidente ficou semi paralisado por 1 ano e meio. Nesse tempo escrevia poemas e aprendeu a tocar violão. O resto é história. Iglesias é conhecido mundialmente e foi eleito pelo livro dos recordes Guinness como o artista latino mais bem sucedido da história.

Desde os tempos de Sara Montiel e Lola Flores, as mulheres tem um espaço garantido na música ibérica. Gelú e Karina foram as rainhas do Iê-Iê-Iê e abriram caminho para Ana Torroja, vocalista da banda Mecano. Entre as melhores vozes femininas da Espanha, se destacam Rosario, Ana Belén, Rocío Dúrcal, Niña Pastori e Isabel Pantoja. Belas e talentosas, as novas cantoras tem feito bastante sucesso em todo mundo. Anote os nomes de Malú, Mónica Naranjo, Leire Martínez e Estrella Morente. E deixando o melhor para o final, as preciosidades chamadas Concha Buika e Bebe.

A lista de cantores espanhóis é imensa, mas separamos alguns nomes que merecem destaque como Pedro Guerra, Paco Ibáñez, José Antonio Labordeta, Joaquín Sabina, Joan Manuel Serrat, Alejandro Sanz e Miguel Bosé.

Não se pode falar em música espanhola sem falar de Paco de Lucía. Chamá-lo de virtuoso não faz jus ao seu talento, seu estilo e sua classe. Pergunte a Eric Clapton, fã descarado do guitarrista flamenco. Paco realizou experimentações, misturando o flamenco com outros gêneros, como clássico e jazz. Morreu em 2014, aos 66 anos. Um dos discos que eu levaria pra ilha deserta é “Friday Night in San Francisco”, de 1981, com ele, Al Di Meola e John McLaughlin.

Não diga Olá, diga Olé!

4 comentários

  1. Camila Lima · junho 22, 2016

    Ah, a Espanha! ❤ Desde a minha adolescência acompanho grandes nomes da música Espanhola. La Oreja de Van Gogh é uma das melhores bandas Pop ao meu ver. O artigo me fez lembrar de uma música de Estopa "Fuente de Energia", há anos que não a escutava. Alguns outros nomes me veem a mente como Roser, Merche, David Bustamante entre outros. Ótima ideia, Lilian. Vou agora mesmo escutar alguns nomes citados. Parabéns!

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    • Lilian Trigo · junho 30, 2016

      Oi, Camila! Obrigada pelos seus comentários, sempre tão certeiros. Sofri um bocado pra fazer essa lista. É muita banda, muita música e sempre alguém fica de fora. O legal é que a gente vai matando a saudade de músicas que tinha esquecido. Suas sugestões são sempre muito bem-vindas.

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  2. Darcio Vieira · junho 23, 2016

    E o Locomia?? Pô, que falha. heheehehe

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