Guia musical da Euro: Alemanha

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Chegou a vez da princesa do baile! A Alemanha é tri na Euro. No quesito música, podemos dizer que os teutônicos são, no mínimo, esquizofrênicos. Dos grandes compositores clássicos à música pop mais bizarra, passando por uma música indie recheada de bandas cult, apresentamos o que toca na vitrola dos alemães.

Breve história sobre a Alemanha na Euro

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A Alemanha, atual campeã do mundo, venceu três vezes a Euro, em 1972, 1980 e 1996, e foi vice campeã outras três, a última em 2008. Neste século, os alemães ainda não levantaram a taça, mas do time de Joachim Löw pode-se esperar tudo.

Em 1960, a primeira edição da Euro foi marcada por tensões políticas causadas pelo Muro de Berlim e pela Guerra Fria. Alemanha Ocidental, Inglaterra, Itália e Holanda se recusaram a participar do torneio por causa da presença da União Soviética, que acabou vencendo a competição.  Em 1964, a Alemanha Ocidental não participou por protesto político. A Alemanha Oriental nunca conseguiu se classificar para a competição.

A parir de 1968, os alemães ocidentais viraram figurinha fácil, participando de todas as edições.  Depois da unificação das duas Alemanhas, os piores resultados foram as eliminações na primeira fase em 2000 e 2004. Das 43 partidas disputadas, a seleção alemã venceu 23, marcando 65 gols. O recorde de presenças é de Lothar Matthäus, de 1980 a 2000. Berti Vogts venceu duas vezes, uma como jogador em 1972, e outra como treinador em 1996.

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Fique de olho

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Depois do clamoroso 7 a 1 na Copa, sabemos muito bem que todos os jogadores da Alemanha podem ser decisivos. Do goleiro Mané Neuer a Thomas Müller, o time alemão é cheio de craques. O negócio é ficar de olho em todos eles.

Música, maestro!

Não dá pra falar de música alemã sem pensar em Pachelbel, Bach, Beethoven, Brahms, Schumann, Mendelssohn, Offenbach, Wagner e Orff. No quesito música clássica, da Renascença ao Romantismo, a Alemanha bate um bolão. Começamos por Heinrich Schütz, considerado um dos compositores mais importantes do século XVII e o maior compositor alemão antes de Johann Sebastian Bach. Seu sucessor foi o versátil Georg Philipp Telemann, que compôs obras de todos os estilos existentes. Georg Friedrich Händel é o mais internacional dos mestres alemães. Passou a primeira parte da carreira em Hamburgo, depois seguiu para Itália e rodou até radicar-se na Inglaterra, onde viveu até o fim da vida. Como acontece no futebol, sempre tem um filho que resolve seguir os passos do pai, sem o mesmo sucesso. É o caso de Carl Philipp Emanuel Bach que, apesar de ter escrito mais de 750 peças musicais, nunca chegou perto do trabalho genial do pai.

Richard Wagner era o compositor favorito de Adolf Hitler, que usou os aspectos nacionalistas e antissemitas de suas obras para torná-lo o exemplo da superioridade da música e do intelecto alemães. Wagner foi genial, criou obras maravilhosas, revolucionou o papel do regente na música, mas seus artigos, mesmo escritos décadas antes, ajudaram na perseguição de compositores que eram contrários ao nazismo. Os compositores Schoenberg e Hindemith saíram do país quando começou a ascensão do Partido Nazista. Já Karl Amadeus Hartmann resolveu ficar e enfrentar a perseguição.

Erich Korngold, pioneiro das trilhas sonoras, imigrou para os Estados Unidos antes da Segunda Guerra e passou a escrever música para cinema. Hans Zimmer, nascido em 1957, é seu herdeiro. São dele as músicas que você escuta nos filmes “Conduzindo Miss Daisy”, “O Rei Leão”, “Gladiador”, “Madagascar”, “O Cavaleiro das Trevas” e “Interstellar”, entre tantos outros.

Depois da Primeira Guerra, com a chegada do cinema falado, surgiram novos estilos musicais. Um bom exemplo é o sexteto “Comedian Harmonists”, pioneiro da tradição alemã de música popular a capella. Os cabarés eram o espaço ideal para as operetas de Kurt Weill e Bertolt Brecht e para cantoras como Marlene Dietrich e Lotte Lenya. Em Berlim e Munique floresceram os locais onde se podia ouvir Jazz, Swing e as Big Band.

Durante a Segunda Guerra, a música praticamente desapareceu dos clubes e das rádios, pois só havia espaço para a música patriótica patrocinada pelo regime nazista.

O estilo de música de cabaret foi ressuscitado, nos anos 80, pela cantora Ute Lemper, famosa por interpretar  Sally Bowles na produção francesa de “Cabaret” – que lhe valeu um prêmio Molière – e Velma Kelly do musical “Chicago” tanto em Londres quanto em Nova York. Colaborou com Michael Nyman, Tom Waits, Elvis Costello, Philip Glass e Nick Cave e rodou o mundo cantando as músicas de Weill e Jacques Brel. Esteve no Brasil duas vezes, em 2011 e 2013.

Só muito depois da reconstrução do país – e por influência americana – começaram a surgir as primeiras bandas de rock. No princípio, sem nenhuma identidade própria, o rock alemão limitavasse a versões de sucessos americanos. Os cantores mais populares eram Peter Kraus e Ted Herold. Nos anos 60, a invasão da música britânica intimidou a cena local e a música alemã sumiu das rádios. As primeiras bandas do Krautrock, ou rock chucrute, foram Dissidenten, Tangerine Dream, Popol Vuh, Can, Neu! e Faust.

Não esquecemos da música típica alemã, que combina com as roupinhas de Frida e Fritz e com uma boa cerveja, mas são tantos exemplos que renderia uma outra playlist. A folk música cantada na língua mãe pode ser ouvida nos trabalhos de Udo Jürgens, Udo Lindenberg, Herbert Grönemeyer, Marius Müller-Westernhagen e Peter Maffay.

No final dos anos 70, foi a vez do punk. Por influência dos Sex Pistols e do The Clash surgiram Die Ärzte, Nina Hagen Band e Die Toten Hosen. Mas não pense que o punk só existia no lado ocidental do muro. Mantendo sua essência revolucionária, o movimento punk da Alemanha Oriental era um antídoto à ditadura comunista e enchia a juventude oprimida de otimismo e anseio de mudar a sociedade.  O crescimento da cena motivou a polícia secreta, Stasi, a infiltrar centenas de colaboradores em shows, nas universidades e nos locais onde os jovens se reuniam. Tanto os músicos quanto os fãs eram considerados inimigos do povo e, depois de algumas horas de interrogatórios, eram forçados a escolher entre a cooperar, ir para a cadeia, para o serviço militar ou deixar o país.

Chegamos, finalmente ao pop alemão dos anos 80! Recheado de bandas que fizeram sucesso e desapareceram, deixando como herança aquela musiquinha que, depois da primeira audição, é impossível tirar da cabeça. Se você não dançou Nena e Alphaville, você não viveu. Nos três anos de existência, 1984 à 1987, a dupla Modern Talk dominava a parada germânica e as capas das revistas musicais como Bravo, um tipo de Wham piorado. Eles voltaram a se reunir em 1998 e venderam milhões de discos.

Ao que tudo indica, alemão gosta mesmo é de Metal. O cardápio de estilos inclui speed metal, power metal, death metal, metal medieval. Escolha o seu. Os dinossauros do metal alemão são Scorpions, Accept e Helloween, que tem fãs em todo mundo. Só nos anos 90 as músicas em alemão começaram a tocar nas rádios e apareceram bandas como Rammstein, Rosenstolz e Die Prinzen. Rammstein, por sinal, foi indicada para o Grammy de melhor apresentação de banda de metal.

O negócio é tão sério que existem bandas de praticamente todos os estilos de música pesada. De speed metal temos Running Wild, Grave Digger e Rage. As bandas de power metal como Blind Guardian e Gamma Ray, têm seguidores fanáticos. A cena thrash metal alemã tem Kreator, Violent Force, Sodom, Tankard e Destruction. O metal medieval está bem representado por In Extremo, Corvus Corax, Wolgemut e Schandmaul. Tem até metal a cappella como Agathodaimon, Crematory, Dark Fortress, Die Apokalyptischen Reiter, Falkenbach Finsterforst, Nocte Obducta e The Ruins of Beverast. Pelos nomes já dá pra ter uma ideia.

Leipzig é a terra dos trevosos góticos alemães e as bandas mais famosas são Lacrimosa, Lacrimas Profundere, Xmal Deutschland, Das Ich, Deine Lakaien, Illuminate, Untoten, No More e  Girls Under Glass.

Os grandes representantes da música industrial são Einstürzende Neubauten e KMFDM. O primeiro só canta em alemão. Já o segundo preferiu cantar em inglês para tornar sua música mais acessível para o resto do mundo.

Se existe um gênero que a Alemanha domina é o da música eletrônica. Não é à toa que a Love Parade, uma verdadeira rave a céu aberto, é o maior evento de música eletrônica do mundo. Tudo isso graças ao Kraftwerk, banda pioneira no gênero, considerada pelo NME a banda mais influente da música, cujo trabalho fez surgir Gary Numan, Ultravox, Orchestral Manoeuvres in the Dark, New Order e Depeche Mode, apenas para citar alguns nomes. Desde o lançamento de seu terceiro disco, Autobahn, o quarteto alemão conquistou seguidores em todo o mundo. A coisa é tão séria que seus trabalhos são considerados literalmente obras de arte, como prova o show que fizeram na Tate Gallery, em 2013. Os DJs alemães também são conhecidos mundialmente. É o caso de Paul van Dyk, o mago das pick ups. Quer saber quem inventou a Trance music? BINGO!

Certeza que você curte algumas bandas que vieram da Alemanha e nem sabe. Quer apostar? Boney M, banda de Disco music, foi inventada pelo produtor alemão Frank Farian. Haddaway e Lou Bega também são alemães! E não vamos deixar de lado a maior farsa da música mundial, Milli Vanilli.

Já pensou em Hip Hop em alemão? É para os fortes, amigo. O maior sucesso do gênero foi a música “Die Da” de Die Fantastischen Vier, lançada em 1992. O Rödelheim Hartreim Projekt partir pro Gangsta rap. Advanced Chemistry usa o rap para defender os imigrantes. O Fettes Brot foi por outro caminho e apostou em letras satíricas. A partir de 2004, o gênero ganhou novos representantes, imigrantes na sua maioria, que encontraram uma maneira de falar sobre problemas sociais. Ficou curioso? Eis alguns nomes: Kool Savas, Sido, Samy Deluxe, Bushido, Marteria, Eko Fresh e Afrob.

Nos anos 2000, a música indie alemã começou a ganhar destaque. Bandas como Wir sind Helden, Notwist, Beatsteaks, Sportfreunde Stiller, Silbermond, Klee, Polarkreis 18, Tokio Hotel e Oomph!, mostram grande influência da música britânica e universitária americana. Sem ser exatamente original, tem uma linha melódica bem interessante.

Mas, sem dúvida, a coisa mais legal dessa playlist são as faixas bônus, com as incursões musicais da seleção alemã, de 1974 a 1994. Vinte anos de vergonha alheia! Por favor, ouça! Garanto que você vai amar a cafonérrima ‘Mexico mi amor’, cantada pelo time de 86, o rap da Copa de 94 e o melhor pior vídeo do gênero futiba, que reúne Lothar Matthäus & cia com… Village People!

Se você chegou até aqui, não pare! Se jogue de cabeça nessa playlist.

Hallo! Alles gut?

 

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