Copa 2014 – No clube dos estrelados, Itália e Brasil são os grandes perdedores

A festa acabou, agora começa a ressaca do Mundial. Enquanto Alemanha, merecidamente, é coroada a rainha do baile, sobrou o rescaldo para quem crash and burn durante a Copa do Mundo. A Azzurra, tetracampeã, ficou na primeira fase, perdeu o rumo, o técnico e toda a cúpula do futebol. Sai do mundial sem glória e com uma boa crise de identidade. O Brasil conseguiu fazer pior. Perder uma Copa em casa não era novidade, mas desta vez nos superamos. O futebol brasileiro foi esmagado, sob o olhar incrédulo de bilhões de expectadores, pela nova Alemanha. Uma Alemanha paz e amor, mais brazuca que a bola da Copa e que os 23 convocados por Luis Felipe Scolari.

O futebol italiano está agonizando. O futebol brasileiro está em coma. Agora é preciso descobrir se ainda existe alguma chance de reanimação. O que é possível dizer, sem medo de errar, é que a recuperação será longa e dolorosa. Mas, antes de desligar os aparelhos, vamos analisar os sintomas e ver se ainda dá para salvar o paciente.

 

1- Técnico não é Deus

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Cesare Prandelli e Luis Felipe Scolari tentaram impôr um estilo, que desde o começo parecia fadado ao insucesso. Prandelli e seu ‘Código Ético’, bastante duvidoso, que usava dois pesos e duas medidas e punia alguns e deixava passar faltas graves. Scolari tentou reeditar a fórmula de 2002, sem se dar conta que 12 anos se passaram e o futebol evoluiu. Se a seleção italiana é menos ‘marketeira’ que a brasileira, também pecou por se preocupar mais com a camisa modernosa que com a preparação para a competição mais importante do futebol. Scolari com sua já conhecida arrogância deitou sobre os louros da conquista de 2002 e achou que ganhar a Copa das Confederações significava alguma coisa.

 

2- Jogador estrela nem sempre brilha

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Balotelli era a grande promessa da Itália. Prandelli sempre perdoou as derrapadas de Mario, insistindo que ele era só um menino rebelde carente de atenção. Neymar era a grande esperança do Brasil, mas sozinho ninguém faz nada. Balotelli saiu do mundial sem dizer a que veio. Para Neymar sobrou a constrangedora tarefa de explicar o inexplicável em uma coletiva ridícula.

3- É impossível ser feliz sozinho

A Itália tem Pirlo, um dos ‘senadores’, campeão de tudo nos últimos 10 anos. Pirlo é um dos maiores centrocampistas do mundo, disso ninguém tem dúvida, mas não joga sozinho. Quando é bem marcado, a Itália não cria nem joga. Só Prandelli não sabia disso. O Brasil tem Júlio César, que já viu melhores dias e gramados mais verdes. Jogar a responsabilidade de liderar uma seleção sem pé nem cabeça pra cima do pobre goleiro brasileiro é, no mínimo, cruel. Júlio César está no mesmo barco que Casillas, foi do céu ao inferno, desmoronou emocionalmente e saiu da Copa pior do que entrou.

4- A estrutura balança-mais-não-cai

Tanto a FIGC quanto a CBF estão há décadas nas mãos dos mesmos. A federação italiana é até mais organizada que a brasileira, criou um centro de treinamento, em Coverciano, e mantém cursos de aperfeiçoamento para treinadores. No papel até funciona. A CBF é a várzea que todos nós conhecemos.

5- Eurocopa e Copa das Confederações são ouro de tolo

A Espanha ganhou a Euro e perdeu de 5 a 1 para a Holanda na estréia da Copa. A Fúria e seu tiqui-taca começaram a naufragar na Copa das Confederações, quando os jogadores espanhóis estavam mais preocupados em curtir a praia e farrear com as moças faceiras de Fortaleza. Em um ano muita coisa aconteceu, Casillas foi para o banco e o resto do time amargou contusões e momentos menos brilhantes. O Brasil também acreditou que ganhar a Copa das Confederações era um bom sinal. A Itália, vice-campeã da Euro, nunca mais consegui jogar tão bem quanto na competição europeia e sofreu em algumas partidas das eliminatórias. Enquanto ninguém prestava atenção, a Alemanha fazia a sua parte e se preparava para a competição que realmente vale.

6- Os favoritos do ‘Professor’ sempre decepcionam

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Prandelli sempre teve um fraco por Cassano e Balotelli, apesar deles renderem mais manchetes pelo mau comportamento que pelo que jogam. Criou um ‘Código Ético’ para ver se eles entravam na linha e acabou julgado por sempre olhar para o outro lado a cada bobagem que os dois faziam em campo. Cassano fez um campeonato razoável pelo Parma, seu enésimo time em 15 anos de carreira como profissional. O que fez durante a temporada não garantiria uma convocação. Balotelli, como todo o Milan, foi uma sombra do que tinha sido nos últimos dois anos. A Itália perdeu Montolivo às vésperas da Copa e Prandelli se viu numa camisa de 11 varas, que o obrigou a manter na lista dos 23 alguns que ele pretendia cortar. A grande sacanagem foi convocar Giuseppe Rossi, que estava em franca recuperação, e cortá-lo da lista final. Lippi apostou em Totti, em 2006, e saiu-se muito bem. Não deu a mesma sorte com Pirlo em 2010. Depois da vitória na Copa das Confederações, Felipão falou para quem quisesse ouvir que a seleção para a Copa era Júlio César mais 10. Não levou em conta que Júlio César, numa vertiginosa espiral descendente, não estava nem no banco do Queens Park Rangers, time da segunda divisão inglesa. Como sempre pode piorar, foi vendido para o obscuro Toronto FC. Scolari apostou em Maicon e em Fred, dois jogadores decadentes, ignorando os protestos da imprensa esportiva e da torcida. Em comum, os dois técnicos têm a soberba de querer provar que tem sempre razão, mesmo quando a realidade mostra exatamente o contrário.

7- Quando a demissão é uma farsa

Depois da goleada de 7 a 1, todos esperavam que Scolari se demitisse. A imprensa esportiva brasileira chegou a usar como exemplo a atitude de Prandelli, que jogou a toalha após a eliminação da Itália, pegando todo mundo de surpresa. De Scolari não se podia esperar a mesma coisa, visto que o Brasil ainda tinha que disputar a partida pelo 3º lugar. Largar a seleção faltando um jogo seria, no mínimo, estúpido. Prandelli e Felipão são pessoas diametralmente diferentes. Cesarone é educado e Scolari não prima pela delicadeza. O que Pradelli fez está longe de ser uma atitude nobre. Dez dias depois de dizer que não treinaria um time de futebol por um ano, assinou com o Galatarasay e se mandou da Itália. Scolari fez o jogo da CBF e pagou caro. O treinador, após derrubar o Palmeiras para a Série B, foi premiado com o cargo máximo do futebol brasileiro. Como diz o ditado ‘Quem dorme com cobras, amanhece picado’. Scolari dormiu técnico e acordou no olho da rua.

8- Depois da queda vem o chorume

No dia da derrota para o Uruguai, o chumbo trocado começou na zona mista. Buffon e De Rossi desceram a lenha nos jogadores jovens da seleção italiana, que sumiram em campo e na hora da derrota, deixando para eles a inglória tarefa de dar explicações. Na volta para a Itália foi a vez de Antonio Cassano defender os companheiros e atacar os ‘senadores’, especialmente Buffon. Em seguida veio a entrevista de Prandelli, que virou a metralhadora contra Balotelli, a quem sempre defendeu. Enfim, o chorume rolou solto. No Brasil a coisa foi um pouco diferente. Nenhum jogador veio abertamente falar sobre o clima na Granja Comary nem atacar a comissão técnica. Ainda. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos

9- Sem estrelas no futuro próximo

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A Alemanha começou a reformulação do futebol no dia seguinte à eliminação da Copa disputada em casa. Começar do zero é uma coisa que alemão sabe fazer bem. Para seguir o exemplo alemão, tanto o futebol italiano quanto o brasileiro já estão atrasados. O comando da federação italiana continua vago e aqueles que decidirão o futuro do futebol italiano estão curtindo as férias de verão. A CBF fez uma ‘faxina’, demitiu da comissão técnica ao office boy, mas o comando passará de José Maria Marin para Marco Polo Del Nero, presidente eleito da CBF. Tudo muda, tudo fica igual. E o penta da Itália e o hexa do Brasil estão mais distantes que nunca. O problema é a Alemanha pegar gosto de bordar estrelas na camisa.

10- Recomeçamos daqui

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Se Itália e Brasil tem alguma pretensão de voltar à elite do futebol, precisam começar agora o Ano Zero. Nada vai apagar as campanhas lamentáveis da Azzurra nas duas últimas Copas nem o histórico 7 a 1 que o Brasil levou da Alemanha. Quem ama futebol tem que estar preocupado. Se a solução for contratar um técnico estrangeiro, que esteja disposto a encarar esses dois desafios, bem-vindo, a casa é sua, não repare na bagunça. O que a Itália tem para oferecer é um estrutura de base bastante satisfatória, porque nem tudo que foi feito desde 2006 é digno de ser jogado no lixo. O Brasil não tem nada para oferecer. Talvez o ideal seja começar com um mea culpa.

Itália e Brasil precisam de um desfibrilador, de uma injeção de adrenalina e de um sinal de que o pulso ainda pulsa.

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